São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 1996
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Tratamento

WILSON BALDINI JR.

A carreira de Rocky Marciano só ganhou credibilidade depois de sua vitória sobre o ídolo Joe Louis, em 51, no Madison Square Garden. Em 80, aos 38 anos, Muhammad Ali serviu de válvula propulsora para o até então desacreditado Larry Holmes. Oito anos mais tarde foi a vez do mesmo Holmes "ajudar" Mike Tyson a se tornar um dos maiores mitos do pugilismo.
Oscar De La Hoya e Julio Cesar Chávez fizeram mais um capítulo de sucessão dentro do boxe. La Hoya venceu porque estava mais bem preparado e passa por um excepcional momento. Só isso.
Chávez saiu sangrando abundantemente do ringue. Mas em pé. Merecia um melhor tratamento pelo seu inabalável passado. "La Hoya massacra Chávez". "Termina o reinado de Chávez". O maior lutador mexicano de todos os tempos e o 6º no ranking da revista "The Ring" ( o mesmo em que Éder Jofre foi 9º) sofreu com a falta de memória dos leigos do boxe.
Foi tratado como aquele empregado de uma determinada firma, que, após 40 anos de serviços prestados, é demitido. Até mesmo o presidente do CMB, José Sulaiman, pede para que ele abandone a carreira. "Estamos preocupados com sua integridade física". Ora, ninguém melhor do que Chávez para saber isso. Afinal, ele sempre se mostrou muito equilibrado em tudo que faz. E fica a dúvida. Se o corte não é tão profundo, será que La Hoya -e seu queixo de vidro- iriam aguentar as consequências da forte troca de golpes do 4º round? É bem provável que não.
O golpe de La Hoya foi preciso, mas o supercílio de Chávez já estava machucado desde 94, quando sofreu uma cabeçada na segunda luta com Frankie Randall.
Agora, La Hoya e o CMB não querem revanche. Tudo bem. Mas não vamos esquecer o que Chávez significa para o boxe. Pelo menos nós, que gostamos de boxe.

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