São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 1996
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São Paulo se torna capital da inteligência mundial

MARCELO REZENDE
DA REDAÇÃO

Depois de cinema, música, festivais de jazz, balé e culinária, agora é a vez do pensamento. Em uma única semana, São Paulo recebe parte do que restou da "inteligentsia" acadêmica do mundo.
São filósofos, sociólogos, teóricos da comunicação e críticos, que se reúnem hoje no Museu da Imagem e do Som para discutir a obra de uma de suas grandes perdas, o francês Gilles Deleuze. Na próxima segunda, no auditório da Folha, debatem a permanência da última grande esperança -ou miragem- do século: o marxismo.
Os colóquios são patrocinados pela Folha, Colégio Internacional de Estudos Filosóficos Transdisciplinares e editora 34.
O encontro sobre a obra de Karl Marx, que contará com a participação do crítico Fredric Jameson, do ensaísta Roberto Schwarz e dos professores Paulo Arantes e Maria Elisa Cevasco (uma das idealizadoras do evento), da USP, tem patrocínio da Folha e da editora Ática.
E, como sempre nesses casos, os franceses comparecem em maioria. Jacques Rancière, François Jullien, Bruno Latour e o professor Gérard Lebrun, conhecido por gerações de alunos de filosofia da USP, onde foi professor, fazem parte da "missão francesa" de 96.
Se não fosse pela total ausência de cafés, inverno rigoroso e elegância natural das ruas, a cidade poderia -aos menos pela qualidade dos debatedores presentes- estar muito próxima a Paris.
À la mode
A lógica da sensação, a antifilosofia e a imanência são alguns dos temas que serão discutidos durante manhã, tarde e noite de hoje.
Ao contrário de muitos de seus colegas de academia, os professores presentes não fazem qualquer tipo de concessão à filosofia "à la mode", a maneira como os franceses qualificaram o pensamento como moda, que tomou a França no final do ano passado.
Esse momento foi espelhado pelas discussões filósoficas nos Cafés e as vendagens astronômicas -em escala mundial- de "O Mundo de Sofia", uma espécie de "O Pequeno Príncipe" dos novos frequentadores da Sorbonne.
"No caso brasileiro, acredito que, ao contrário da Europa, temos uma certa carência de filosofia, uma carência de formação. Acho que esse é um dos motivos dos seminários atraírem tantas pessoas", diz a filósofa e professora da USP Olgária Mattos, que fala hoje sobre a obra de Deleuze.
Olgária confirma o que as editoras já haviam detectado em seus balanços: um interesse crescente pela alta cultura, confirmado pelos 4.700 exemplares vendidos de "O Que É Filosofia" (editora 34), de Gilles Deleuze e Felix Guatarri, ou os 6.000 de "Os Trabalhos e os Dias" (ed. Iluminuras), de Hesíodo, livros que não se assemelham à idéia comum sobre o clássico best seller.

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