São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 1996
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Cultura agoniza em "O Amor e a Fúria"

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

O primeiro plano define o que será "O Amor e a Fúria". Há uma bucólica, aparentemente eterna paisagem natural. Mas a câmera desvia-se, e notamos que a paisagem é um outdoor. Ali, ao lado, estão a cidade, as ruas, a realidade. E aí a coisa é bem menos agradável.
A rigor, o diretor Lee Tamahori exercita o "menos agradável", ao menos na primeira parte do filme: o recurso à força bruta, o cretinismo, a insensibilidade são assombrosos, talvez exagerados.
Estamos, então, no território de Jake (Temuera Morrison), homem brutal, marido idem, que resolve as coisas na pancada.
Aos poucos, porém, "O Amor e a Fúria" se impõe. É quando tomamos contato com as pessoas do subúrbio de Auckland: um subproletariado sofrido, não apenas pela pobreza, mas por uma assombrosa desagregação cultural.
"O Amor e a Fúria" aparece, então, como um quadro pertinente, muito sensível deste fim de século: é universal (aplicável a qualquer grande cidade), mas ao mesmo tempo tem uma âncora sólida na tradição neozelandesa (Beth, a mulher, é maori, por exemplo).
O filme permite-se, no final, um afrouxamento desse quadro degenerescente, apontando para o futuro com esperança na natureza humana e para a cultura como elemento integrador.
É um olhar talvez um tanto róseo. Mas, pelo que apresenta de novo, dá para aceitar, por uma vez, a acomodação.(IA)

Filme: O Amor e a Fúria
Produção: Nova Zelândia, 1994, 99 min.
Direção: Lee Tamahori
Com: Rena Owen, Temuera Morrison
Quando: a partir de hoje, nos cines Lumière 2, Paulista 4, Eldorado 5 e circuito

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