São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 1996
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Oficina aposta no mito em 'As Bacantes'

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um espetáculo de cinco horas de duração, que rompe os limites do teatro tradicional para se converter em uma celebração carnavalesca. Uma tragycomedyorgia. "As Bacantes", de Eurípides (485-406 a.C.), estréia hoje em montagem do grupo Oficina, com direção de José Celso Martinez Correa.
Foram 13 anos de preparação e inúmeros anúncios de estréia -sempre adiadas.
O último adiamento ocorreu neste mês: prevista para entrar em cartaz no dia 1º, teve seus últimos 13 dias de atraso.
Além da coincidência numérica -13 anos e 13 dias-, a estréia coincide com o aniversário da morte de Cacilda Becker, uma das dezenas de referências que Zé Celso incluiu no texto original de Eurípides.
O enredo e muitas das falas originais estão mantidos. O governante Penteu tenta impor o poder civil sobre as desordens e orgias associadas ao culto de Dioniso -deus do prazer, do vinho e do teatro.
Considerado o último trágico, Eurípides escreveu "As Bacantes" aos 80 anos, no exílio.
O conflito entre mito e poder político, eixo da época trágica, tem nesta peça sua última versão. E quem vence, simbolicamente, é o mito: Penteu é estraçalhado pela mãe e pela mulher, adoradoras dionisíacas.
Referências
Ao retomar o texto 24 séculos depois, o Oficina também aposta no poder do mito, agora banhado por toda a história que sucedeu o original.
O texto ganha referências contemporâneas e até narcísicas: o burocratismo anticultural, os conflitos sociais e econômicos, a história do Brasil e do próprio Oficina.
A encenação começa na rua. Os atores entram no teatro em desfile carnavalesco. O prédio do Oficina, projetado por Lina Bo Bardi em 84, é uma passarela. Foi pensado especialmente para "As Bacantes".
Não só o espaço rompe o convencionalismo. O ritmo ritualístico quer reproduzir efeitos do culto dionisíaco, fazer uma celebração.
Só por estrear, o espetáculo afirma uma vitória mítica contra o poder tradicional: "As Bacantes" contou com um orçamento de apenas R$ 60 mil, da prefeitura.
Nem patrocinadores quiseram dar dinheiro, nem o governo estadual cumpriu um convênio para manutenção do grupo. O Oficina desce a passarela porque tem fé.

Peça: As Bacantes, de Eurípides
Direção: José Celso Martinez Correa
Com: Marcelo Drummond, Fransérgio Araújo, Pascoal da Conceição e outros Onde: Teatro Oficina (rua Jaceguai, 520, tel. 011/606-2818)
Quando: estréia hoje, às 21h
Quanto: R$ 10

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