São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 1996 |
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Oficina aposta no mito em 'As Bacantes'
ELVIS CESAR BONASSA
Foram 13 anos de preparação e inúmeros anúncios de estréia -sempre adiadas. O último adiamento ocorreu neste mês: prevista para entrar em cartaz no dia 1º, teve seus últimos 13 dias de atraso. Além da coincidência numérica -13 anos e 13 dias-, a estréia coincide com o aniversário da morte de Cacilda Becker, uma das dezenas de referências que Zé Celso incluiu no texto original de Eurípides. O enredo e muitas das falas originais estão mantidos. O governante Penteu tenta impor o poder civil sobre as desordens e orgias associadas ao culto de Dioniso -deus do prazer, do vinho e do teatro. Considerado o último trágico, Eurípides escreveu "As Bacantes" aos 80 anos, no exílio. O conflito entre mito e poder político, eixo da época trágica, tem nesta peça sua última versão. E quem vence, simbolicamente, é o mito: Penteu é estraçalhado pela mãe e pela mulher, adoradoras dionisíacas. Referências Ao retomar o texto 24 séculos depois, o Oficina também aposta no poder do mito, agora banhado por toda a história que sucedeu o original. O texto ganha referências contemporâneas e até narcísicas: o burocratismo anticultural, os conflitos sociais e econômicos, a história do Brasil e do próprio Oficina. A encenação começa na rua. Os atores entram no teatro em desfile carnavalesco. O prédio do Oficina, projetado por Lina Bo Bardi em 84, é uma passarela. Foi pensado especialmente para "As Bacantes". Não só o espaço rompe o convencionalismo. O ritmo ritualístico quer reproduzir efeitos do culto dionisíaco, fazer uma celebração. Só por estrear, o espetáculo afirma uma vitória mítica contra o poder tradicional: "As Bacantes" contou com um orçamento de apenas R$ 60 mil, da prefeitura. Nem patrocinadores quiseram dar dinheiro, nem o governo estadual cumpriu um convênio para manutenção do grupo. O Oficina desce a passarela porque tem fé. Peça: As Bacantes, de Eurípides Direção: José Celso Martinez Correa Com: Marcelo Drummond, Fransérgio Araújo, Pascoal da Conceição e outros Onde: Teatro Oficina (rua Jaceguai, 520, tel. 011/606-2818) Quando: estréia hoje, às 21h Quanto: R$ 10 Texto Anterior: Folha dá dicas de lazer por telefone Próximo Texto: Grupo Sounds of Blackness canta gospel no Bourbon Street Índice |
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