São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 1996
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O PAMG

Se fosse aplicado radicalmente, o esboço de cartilha para os candidatos do PFL às eleições municipais de outubro transformaria o Brasil numa espécie de paraíso das campanhas eleitorais decentes, politicamente corretas e do mais alto nível.
Basta, para chegar a essa conclusão, ater-se à onomatopéia criada pelo autor do esboço, o deputado federal João Mellão (SP).
É "Pamg", acrônimo para tudo o que fica proibido aos candidatos pefelistas: o "pê" de prometer, o "a" de acusar, o "m" de mentir e o "g" de gritar. Mas é pouco provável, para dizer o mínimo, que haja alguma campanha eleitoral, na face da Terra, em que os candidatos não cometam um ou vários desses quatro pecados.
No Brasil, país de cultura política bastante precária, o "Pamg" é prática infelizmente recorrente.
Parece evidente que o que o PFL busca, com seu esboço de cartilha, é fazer um pouco de demagogia, se tomada na acepção de "simulação de modéstia, desprendimento, tolerância", como consta do "Aurélio".
De resto, é bom lembrar que nem o PFL nem o deputado João Mellão são os mais indicados para atacar o "Pamg". O deputado foi ministro do governo Fernando Collor e, o seu partido, um dos principais sustentáculos deste, a ponto de o deputado Luís Eduardo Magalhães (BA), hoje presidente da Câmara, ter sido o encarregado de fazer a defesa do então presidente, no dia em que a Câmara votava a aceitação ou não do processo de impeachment.
Não se passou tanto tempo assim do governo Collor para que se esqueça que foi um dos que mais praticou o "pê" de prometer (acabar com a inflação com um só tiro, por exemplo), o "a" de acusar (acusar seu adversário, Luiz Inácio Lula da Silva, de pretender sequestrar a poupança dos brasileiros, por exemplo), o "m" de mentir (aqui, a lista não caberia neste espaço, mas basta lembrar a notória "Operação Uruguai") e o "g" de gritar (do qual o "aquilo roxo" é uma boa mostra).

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