São Paulo, sábado, 15 de junho de 1996
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Doentes da Humaitá dizem levar choques

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Pacientes da Clínica Psiquiátrica Humaitá (Jacarepaguá, zona oeste do Rio) confirmaram ontem que recebem tratamento de choque e são acorrentados quando têm crises de agressividade.
"Tem paciente que fica acorrentado e leva choque. Eu não estava doente e estava tomando remédio", contou o aposentado Máximo Caetano, 65, que está internado na clínica há 13 anos, porque, segundo ele, não tem para onde ir.
Ontem, à tarde, parlamentares e sindicalistas visitaram a clínica. O dono da Humaitá, Eduardo Espínola, proibiu a entrada da imprensa. A repórter da Folha conseguiu entrar sem se identificar.
Espínola é um dos sócios da clínica Santa Genoveva, onde, desde abril, morreram 98 idosos.
A delegação que visitou ontem o local foi motivada por relatório produzido em dezembro para a Secretaria Municipal de Saúde.
No relatório, um pavilhão da Humaitá é descrito como "inferno de Dante". Desde domingo, seis idosos foram transferidos da Santa Genoveva para a Humaitá.
A clínica Humaitá apresentou ontem paredes pintadas, corredores limpos e cortinas novas.
No pavilhão Lourenço Jorge, visitado ontem, ficam pacientes considerados mais agressivos. A porta estava trancada. Os pacientes estavam nas suas camas, paralisados e mudos.
"Eles estão dopados. O cheiro de fezes aqui é insuportável", disse Luiz Tenório, presidente do Sindicato dos Médicos do Rio.
"A porta às vezes fica trancada. Quando eles ficam muito agitados, temos que dar tranquilizantes", disse Cláudio Schmidt, médico responsável pelo pavilhão.
"São pacientes difíceis de trabalhar. Alguns rasgam a roupa e comem fezes. A clínica não é a sucursal do inferno. Essa terminologia incendiária não é verdadeira", afirmou Espínola.
Na frente de enfermeiros e médicos, os pacientes repetiam que a clínica era boa. Quando os funcionários se afastavam, mudavam.
"Quando estamos doentes, eles prendem, acorrentam, amarram, dão choque. Trocaram tudinho agora, na reforma. Tem que acabar com essa pouca vergonha. Por que os pacientes ficam tanto tempo aqui e não têm alta?", gritava o paciente Hélio de Souza, 30.

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