São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
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O paradoxo da crise

LUÍS NASSIF

Os jornais dessa semana foram pródigos em notícias sobre o início da recuperação da economia. A coluna já antecipara esse movimento há alguns meses.
Também há alguns meses a coluna vem alertando para o explosivo processo de mudanças que está ocorrendo na economia. Praticamente não há setor que não esteja passando pelas maiores transformações da sua história.
É interessante que esse processo, cada vez mais visível, não tenha sido captado antes pela mídia.
É um processo tão violento de transformações, que nem as estatísticas mais focadas como o Índice de Nível de Atividades (INA) da Federação das Indústrias de São Paulo conseguem mais retratar a situação.
Empresas desativando produções inteiras, mudando de ramo da noite para o dia, fusões, incorporações e quebras que impedem rigorosamente qualquer tentativa de retratar a situação por meio de estatísticas.
No campo financeiro, bancos de negócios nacionais e estrangeiros ingressaram em um processo frenético de identificação de novas oportunidades e de reorganização de setores inteiros.
Em crise
Simultaneamente, tem-se a manutenção da atividade econômica em níveis baixos (ainda que ascendentes), um enorme desemprego remanescente e setores inteiros desaparecendo.
Desde que começaram os primeiros sinais de novo plano econômico, a coluna passou a alertar reiteradamente para a necessidade de se preparar previamente o ambiente econômico para o ajuste.
Se as providências tivessem sido tomadas antecipadamente, os ganhos para o país teriam sido muito maiores. A maior parte das empresas procedera a ajustes depois de 1992.
A crise do ajustamento e a escassez de crédito certamente induziriam grande parte delas a buscar o mercado de capitais, completando o ciclo de modernização, com a profissionalização da gestão e a democratização do capital.
Em vez de uma Metal Leve sendo absorvida por grupos alemães, provavelmente teria havido tempo para que ela comandasse o inevitável processo de incorporações que se desenhava.
Em alta
Mesmo assim, com muito mais sangue, suor e lágrimas que o necessário, com todos os erros que foram cometidos, o que se prenuncia pela frente é um modelo de reestruturação dinâmica na economia.
Quem estiver apostando em estagflação pode correr o risco de quebrar a cara. De certo modo, repete-se a visão parcial do ano passado, que impediu que a maioria absoluta dos analistas percebesse o início da crise.
Mesmo com problemas estruturais sérios que permanecem, como a questão das contas públicas e a ainda não resolvida questão externa, é impossível que as reestruturações em marcha não produzam efeitos relevantes no médio prazo.
Essas constatações são importantes na definição dos cenários dos próximos meses.
De um lado, acabam as esperanças (de quem ainda tinha) de um ajuste cambial mais acentuado. A hipótese do ajuste só tinha espaço em um cenário claro de estrangulamento cambial, hipótese afastada no curto prazo.
De outro, até o final do ano o reaquecimento da economia deverá provocar alterações sensíveis no moral interno, ainda a tempo de serem capitalizados nas próximas eleições municipais.
Se o governo conseguir agir com rapidez nas chamadas reformas infraconstitucionais, poderá colher os frutos mais claramente a partir do próximo ano.

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