São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
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Toupeira "Ricardão" faz espécie evoluir

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O sexo das abelhas era uma das poucas coisas que incomodava o naturalista britânico Charles Darwin, autor da mais influente das teorias da evolução biológica.
Por que toda uma colônia de abelhas deixa uma das mais interessantes atividades biológicas, o sexo, aos cuidados de apenas uma senhora, a abelha-rainha?
Duas descobertas recentes teriam dado o que pensar a Darwin.
Pesquisadores das Universidades de Utah e Arizona, nos EUA, acharam no litoral de Belize, América Central, uma espécie de camarão com hábitos reprodutivos e vida social parecidos com os de abelhas, formigas e cupins. É a primeira vez que esse tipo de comportamento é encontrado no mar.
E se a vida sexual dos camarões não for suficiente para causar preocupações ao sujeito que deu origem aos adjetivos "darwinista" e "darwiniano", existe também o rato-toupeira pelado.
Como as abelhas
Causou furor entre os cientistas descobrir, já faz alguns anos, que esse exótico mamífero habitante dos desertos sul-africanos se comportava como as abelhas. O rato-toupeira pelado, nome científico Heterocephalus glaber, também entrega o dever de procriar às patas de uma fêmea maior e mais violenta.
Mas agora pesquisadores da Universidade da Cidade do Cabo (África do Sul) descobriram que colônias de ratos-toupeiras às vezes produzem alguns indivíduos ousados, verdadeiros "ricardões" do reino animal. Sua função é buscar o adultério a qualquer preço, fugindo de sua colônia original e procurando se reproduzir com fêmeas de outras colônias.
Darwin talvez ficasse espantado, pois ele dizia que todo indivíduo teoricamente procura ter descendência (ou, como dizem os descendentes intelectuais do naturalista, passar seus genes para uma próxima geração).
A base da teoria da evolução darwiniana é a seleção natural, o processo pelo qual os indivíduos melhor adaptados ao meio conseguem ter descendência.
Os camarões da espécie Synalpheus regalis deram uma dica para resolver a dúvida: ao viver em cavidades, criam condições tais de segurança para a colônia, que fazem da vida social uma solução adequada em termos de seleção natural -é melhor passar genes muito parecidos com os próprios à geração seguinte do que virar coquetel em restaurante.
O rato-toupeira cumpre uma função parecida. Mais gordo e preguiçoso que os outros membros da colônia, mas dotado do instinto de "ricardear", ele permite a variação genética necessária para a sobrevivência da espécie.

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