São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
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SEM CONTRA-INDICAÇÕES

CLAUDIA ATLAS

Guia polêmico orienta sobre os remédios (e suas doses) a tomar em cada doença
Um novo paciente está saindo do consultório médico. Antes de se despedir com um respeitoso "Obrigado, doutor", ele faz uma série de perguntas. Consciente de seus direitos, este paradoxal "paciente ativo" quer informações e explicações claras e completas. Coloca em xeque diagnóstico e medicação, pergunta e pesquisa sobre benefícios e riscos decorrentes da medicação prescrita e dá sequência ao tratamento vigiando, também, os seviços do laboratório. Não poupa esforços até ficar totalmente satisfeito.
O "paciente ativo", questionador, participante, acaba de ganhar um forte aliado - o Guia do Paciente, de Norival Caetano, primeira obra sobre medicamentos escrita para quem toma remédios e não para quem os receita. São quase mil páginas ensinando, em linguagem fácil, os benefícios e os riscos de 3 mil remédios, selecionados pelos critérios da disponibilidade nas farmácias e frequência com que são recomendados pelos médicos.
Lançada há três meses, em todo o Brasil, a obra usa termos mais claros que o da bula. Ao invés de "contra-indicações", "reações adversas", "efeitos colaterais" e "interações medicamentosas", o leitor encontra, respectivamente, "reações que o produto pode provocar", "não usar nas seguintes condições", "atenção ao usar outro medicamento". O acesso às informações é facilitado. A partir do índice, há três caminhos para se encontrar o remédio: o nome do princípio ativo, ou substância principal do medicamento; o nome comercial e a marca.
Além das fichas para cada produto, há 20 páginas com instruções gerais, ensinando como se toma um comprimido, como se usa um supositório, como se aplica uma injeção, a melhor maneira de usar as medidas relativas às dosagens e, ainda, nome e endereço dos principais centros de controle de intoxicação do país e outras informações importantes.
Proteção contra os riscos
O autor do Guia do Paciente resume, aqui, o que considera algumas virtudes do livro. Informações que, normalmente, o paciente não obtém no consultório nem na bula.
Associação indevida de remédios, ou interação medicamentosa.
Quantas mulheres já não engravidaram, sem desejar, por desconhecer que a ação dos anticoncepcionais é reduzida quando elas tomam, simultaneamente, alguns antibióticos, como, por exemplo, a Tetraciclina?
Os anticoncepcionais também sofrem diminuição de sua ação quando associados à hidantoína, um anticonvulsivante. Como a hidantoína é totalmente contra-indicada durante a gravidez, é fácil compreender os males qu uma associação indevida dessa natureza pode provocar.
Omissões da bula
As bulas dos remédios vendidos no Brasil não incluem a classificação de risco de algumas substâncias durante a gravidez. No caso da hidantoína, mencionada acima, é uma substância que apresenta risco X na gravidez, ou seja, o maior risco de classificação.
A maior parte das substâncias ativas, ou seja, as que exercem os efeitos principais dos medicamentos, estão classificadas pelo FDA americano (Food and Drug Administration) quanto aos riscos durante a gravidez. Por exemplo, a isotretinoína, um produto do receituário dermatológico para tratamento de casos graves de acne, também apresenta risco X na gravidez. Nenhuma adolescente, com vida sexual ativa, pode ignorar essa informação.
Medidas e horários de administração do remédio
Quando um médico receita um medicamento para a criança, dizendo para administrar uma medida três vezes ao dia, quantas mães se lembram de perguntar que medida é essa?
Segundo Anthony Wong, do Centro de Controle de Intoxicações do Hospital das Clínicas de São Paulo, uma colher de chá, nos Estados Unidos, equivale a 5 ml (cinco mililitros) enquanto a colher de chá brasileira corresponde a 3,5 ml. Portanto, é muito comum que a mãe administre menos quantidade do que o indicado, diminuindo o efeito da substância ingerida. Este é um risco na recuperação do doente, mas, a superdosagem, que ocorre quando a mãe confunde a colher de chá, mencionada na bula, com o copo-medida de 10 ml que acompanha muitos medicamentos, pode intoxicar a criança.

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