São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 1996
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Intriga e conchavo marcam festa tucana

GABRIELA WOLTHERS
em São Paulo
FÁBIO SANCHEZ

GABRIELA WOLTHERS; FÁBIO SANCHEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Casamento da filha do ministro Paulo Renato reúne desafetos recentes como Motta e Maluf, além de FHC

Intrigas de um lado e conchavos políticos de outro. Essa foi a marca da festa de casamento da filha do ministro Paulo Renato Souza (Educação), Maria Luiza, realizada no sábado à noite em São Paulo.
O resultado não poderia ser diferente numa cerimônia que misturou a "nata" tucana com políticos como o prefeito Paulo Maluf (PPB), o presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP), os senadores Romeu Tuma (PSL-SP) e Eduardo Suplicy (PT-SP), e peemedebistas governistas.
Enquanto o presidente Fernando Henrique Cardoso e sua mulher, Ruth, assistiam à cerimônia na primeira fila da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no bairro Jardim Paulistano, o ministro Sérgio Motta (Comunicações) provocava com gestos o prefeito Maluf, que ficou isolado do outro lado da igreja.
No balanço final, Maluf criticou Motta, afirmando que o tucano precisa de um "corretivo". Motta respondeu, chamando o prefeito de político "em final de carreira".
Tuma -que está "magoado" com o PSDB após a recusa do partido em ceder o posto de vice na chapa do candidato José Serra a seu filho, o deputado Róbson Tuma (PSL-SP)- aproveitou o casamento para desabafar.
O senador do PSL repetia, a quem quisesse ouvir, que está "faltando sinceridade" nas negociações com os tucanos.
O candidato Serra, por sua vez, aproveitou o ecletismo político da noite para buscar uma união maior com o PMDB antiquercista.
Na festa, que ocorreu no Jockey Club, centro da cidade, o tucano procurou o ministro peemedebista Luiz Carlos Santos (Assuntos Políticos) e o deputado José Aristodemo Pinotti (PMDB-SP) para "conchavar" -expressão utilizada pelo próprio candidato.
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O ISOLADO - A maioria das "autoridades" sentou-se à direita do altar. Entre eles, FHC, o governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), Sarney e sua filha, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), e os ministros Clóvis Carvalho (Casa Civil), Luiz Carlos Santos, Motta e Antonio Kandir (Planejamento).
Maluf, que vem criticando sistematicamente Serra, sentou-se na primeira fila, mas do lado oposto da igreja. Estava desacompanhado (sua mulher, Silvia, estava gripada) e ninguém quis sentar-se ao seu lado.
Renata Coutinho, mulher do economista Luciano Coutinho, ligado ao PSB, chegou a ocupar o lugar. Mas levantou-se assim que viu câmeras de TV filmando o prefeito. "Não queria que me confundissem com a Silvia", argumentou aos jornalistas.
Restou a Maluf puxar conversa com o deputado Celso Russomano (PSDB-SP), que estava sentado na fila posterior.
Mesmo com a cerimônia de casamento em pleno curso, o parlamentar não perdeu a oportunidade de pedir ao prefeito que criasse um Procon (Coordenadoria de Proteção e Defesa do Consumidor) municipal.
O PROVOCADOR - Motta passou grande parte da cerimônia provocando Maluf. Do outro lado da igreja, fazia sinais de "positivo" com o polegar e gestos de que queria conversar com o prefeito.
Mas isso não significou o fim das divergências entre os dois. "Adoro o Serginho, mas, às vezes, ele fala demais e é preciso dar um corretivo", disse Maluf.
A resposta de Motta foi dada na festa: "Gosto muito de Maluf, mas ele está em final de carreira. Ele tem compromisso com o Brasil do passado e nós, tucanos, somos o Brasil do futuro".
O SOMBRA - Na festa, os tucanos só se referiam ao candidato do PPB à Prefeitura de São Paulo, Celso Pitta, como "o sombra". A explicação para o apelido: o pepebista, segundo os tucanos, sempre aparece nas fotografias atrás de Maluf, o mentor de sua candidatura.
O PETISTA - O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) foi um dos primeiros a chegar à igreja, junto com sua mulher, a deputada Marta Suplicy (PT-SP).
"Conheço Paulo Renato há mais de 20 anos, e sua filha (a noiva Maria Luiza) já me confessou que votou várias vezes em mim", disse o senador ao ser perguntado sobre o motivo de sua presença.
OS PERDIDOS - O casamento de Maria Luiza com Alexander Molano estava marcado para as 20h45. Só que antes estava sendo realizada uma outra cerimônia de casamento na mesma igreja.
Os convidados que chegaram adiantados levaram um susto ao ver uma noiva já dentro da igreja. "Meu Deus, será que estou atrasada?", perguntou a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP).
O ministro da Saúde, Adib Jatene, nem se importou. Sentou-se na última fila e assistiu às duas cerimônias, uma atrás da outra.

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