São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 1996
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MOTOR SEM ARRANQUE

Com a proximidade das eleições, as autoridades econômicas fazem o que podem para reverter o quadro recessivo. Nas últimas semanas, o Banco Central liberalizou o leasing, facilitou o crédito ao consumo, abriu alternativas de refinanciamento de dívidas. O BNDES promete novas linhas de financiamento aos exportadores, as obras públicas entram num ritmo tipicamente eleitoral. Mas qual o alcance possível dessas medidas?
Tudo indica ser limitado. As taxas de juros estão ainda bastante altas, em especial na ponta do consumidor final. Como a inadimplência foi e continua alta, os repiques de consumo são sazonais. O Dia das Mães e o Dia dos Namorados contribuem para oxigenar a economia, mas não se vislumbra ainda um horizonte de reativação sustentada.
Da euforia à retração foi-se muito rápido, e até por força das circunstâncias (a crise mexicana). Mas a reativação é difícil sobre uma base de empresas e famílias feridas pela inadimplência, pela concorrência dos importados, pelo orçamento apertado e pelo fantasma do desemprego.
A produção industrial registrava em abril, na média nacional, uma queda de 2,5%. O quadro é ainda pior do que sugere a média, pois no maior centro, São Paulo (40% da indústria brasileira), a retração era em abril de -8,1%, segundo o IBGE.
O governo não tem como gastar muito mais, ao contrário, tenta conter os gastos e arrecadar mais. Exportar mais hoje é necessário e até possível. Mas as importações também cresceram, ou seja, o comércio exterior não pode desempenhar a função de alavanca do crescimento. E os investimentos privados, sob esses juros e diante do crescimento baixo, também estão intimidados.
A economia no segundo semestre deve mostrar maior alento (o número mais frequente para o crescimento médio em 1996 é 3%). A máquina produtiva está funcionando e pode ser acelerada em breve. O problema é que por enquanto falta ainda encontrar o motor de arranque.

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