São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 1996
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PRETO NO BRANCO

Não devem ser poucos os brasileiros que, no momento, infelizmente, experimentam a impressão de um "déjà vu" quanto à apuração de responsabilidades pelo trágico acidente ocorrido em shopping de Osasco na última terça-feira.
Dois dias depois, o advogado da empresa que construiu a edificação procurou responsabilizar a administração do shopping pela explosão que matou 40 pessoas e feriu mais de 400. Os administradores, por sua vez, no dia anterior, haviam tentado colocar a Cetesb como co-responsável em recente vistoria da tubulação, na qual não teriam sido encontrados vazamentos, e agora negam qualquer tipo de negligência.
Frente a essa estratégia deletéria (e já lamentavelmente tradicional) de atribuir aos outros as responsabilidades por mais uma tragédia nacional, os cidadãos comuns e mesmo os familiares das vítimas parecem estar sendo convidados a acreditar -se puderem, é claro- que um mero e imponderável acaso, à revelia de qualquer intervenção ou omissão humana, motivou aquela tragédia.
Eis o que não se pode mais tolerar: fulano culpa beltrano, que responsabiliza sicrano, que por sua vez acusa fulano. É o terrível círculo vicioso das inverossímeis escapatórias que ludibriam apenas a aqueles que quiserem deixar-se enganar e terminam, lamentavelmente, na impunidade.
Da mera prestação de serviços (veja-se a situação atual das clínicas de Santa Tereza e de Caruaru) aos sangrentos confrontos entre a PM e presidiários (no Carandiru) ou sem-terra (em Eldorado do Carajás), a sensibilidade dos brasileiros continua sendo afrontada pela cruel constatação de que boa parte das autoridades, que poderiam passar a limpo essas tragédias, parecem apostar mais, e antes de tudo, no esquecimento.
É preciso combater essa lamentável tendência. E com urgência.

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