São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 1996
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Escola suspende as aulas com medo de conflitos

MALU GASPAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Na EMEI (Escola Municipal Infantil) Batista Cepelos, em frente à favela de Heliópolis (zona sul), os alunos foram dispensados ontem de manhã. Mães e professoras estavam com medo de conflitos entre moradores e a polícia.
Na manhã de anteontem, os moradores fecharam as duas entradas da favela e ameaçaram entrar em conflito com a polícia, inclusive utilizando armamentos. "Só volto na segunda-feira. Só tenho esse filho e não vou deixar ele por aí correndo risco", disse Josefa Costa Luna, 39.
Como ela, outras mães foram orientadas pelas professoras a não deixar seus filhos na escola.
"Só quem tinha que trabalhar e não tinha creche deixou as crianças aqui", disse a professora Mara Cassim. "A delegacia de ensino nos mandou sair daqui ontem (anteontem), mas como vamos deixar as crianças?".
A EMEI ficou fechada ontem, e as crianças não tiveram falta.
Resistência
Segundo moradores da favela, o esquema de autodefesa com armamentos, inclusive granadas, existe e é conhecido no local.
A moradora L.V. afirma que há pessoas armadas na favela. Ela diz que todos sabem quem são e onde ficam, mas ninguém pode falar.
"Quando morre alguém, a gente já sabe que é para calar a boca. Mas eles só brigam entre si. Com os outros moradores, eles são legais." Segundo L., "eles" apartam brigas entre moradores e dão conselhos. "Eles ajudam como podem."
"A gente convive bem, cada um fica na sua", diz E., que confirmou conhecer quem usa armas. O morador R. diz que o local "já foi bem pior". "Já houve épocas em que ninguém saía de casa à noite. Agora, todo mundo sai tranquilo." Segundo ele, as pessoas armadas estão em outras favelas da região.
Todos disseram não saber se as pessoas responsáveis pelas armas estão envolvidas em algum tipo de crime, nem qual seria ele.
Outro morador, A., afirma que que as armas que estão na favela serviriam para defender o local. "Aqui, se fosse preciso, até as mulheres pegariam em armas".
O diretor da Unas (união das associações de moradores) Raimundo Bonfim, confirma a existência de armas.
"Há pessoas que andam armadas, e todo mundo sabe quem são. Mas não acredito que seja crime organizado. É diferente do Rio, onde o crime chega a dominar a favela", diz.

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