São Paulo, domingo, 23 de junho de 1996
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Cidade foi fundada em 1893

VICTOR AGOSTINHO
DO ENVIADO ESPECIAL A CANUDOS (BA)

Canudos nasceu com o nome de Bello Monte no dia 13 de junho de 1893. Foi fundada por Antônio Conselheiro, a quem os sertanejos de toda a região atribuíam poderes de cura, poderes divinos.
Em menos de dois anos, o carisma de Antônio Conselheiro transformou o vilarejo em uma espécie de "meca de barro". A cidade, sem a menor infra-estrutura de saneamento, chegou a abrigar 25 mil pessoas em 5.200 casas, segundo levantamento do Exército feito após a guerra.
Canudos -nome que recebeu depois da guerra- foi, na época, o segundo maior município da Bahia. Formou-se ao seu redor um importante e complexo pólo religioso e comercial, que atraía gente de todas as partes. Quem quisesse morar lá tinha de doar um terço de seus bens para um fundo comum, usado para atender a população mais carente.
Quando acabavam as provisões, Antônio Conselheiro "solicitava" aos fazendeiros vizinhos ajuda em gado, ou mesmo em dinheiro. O medo de saques fazia dos fazendeiros constantes colaboradores.
Repartições públicas dos governos federal e estadual eram proibidas de se instalar em Canudos.
Na recém-fundada República Federativa do Brasil -a monarquia havia sido derrubada apenas quatro anos antes do surgimento de Canudos-, não aceitar o "modus operandi" dos republicanos era uma afronta que precisaria ser aniquilada.
Além de não usar internamente o dinheiro oficial, os conselheiristas não pagavam impostos à República -eram tidos como ferrenhos monarquistas.
"O divino era o mais importante de tudo para os conselheiristas. O imperador era uma pessoa escolhida pelo poder divino para governar, assim como Antônio Conselheiro representava o divino para os sertanejos. O presidente da República não era uma solução divina. Portanto, era ilegítimo", afirma Manoel Neto.
Essa sutil mas importante diferença não foi levada em conta na ocasião. Para os republicanos, Canudos precisava ser anulada por representar um ponto de resistência à nova ordem.
(VA)

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