São Paulo, domingo, 23 de junho de 1996
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Discussão sobre futuro da UE evita o nacionalismo

IGOR GIELOW
DE LONDRES

Um dos pontos mais evitados na discussão sobre o futuro da UE é o mesmo que matou milhões de pessoas desde as guerras napoleônicas, há cerca de 150 anos: o nacionalismo europeu.
Mas a atual crise européia mostra que nem tudo mudou nos últimos 50 anos.
"Especialmente no Reino Unido, há uma desconfiança terrível do que se classifica de 'germanização' da UE", afirma John Maller, pesquisador associado de ciência política na Universidade de Leeds.
Por "germanização" se entende o controle financeiro das estruturas da UE, especialmente se a União Monetária vingar, por uma burocracia saída basicamente do Bundesbank (o BC alemão). E, por tabela, o controle político.
Neste mês, foi divulgada pesquisa bancada pela empresa Gestetner, que fornece aparelhos de fax para escolas britânicas interagirem com instituições européias.
O questionário, distribuído a 800 alunos entre 10 e 16 anos, trouxe dados reveladores. Dos ouvidos, 78% associam a Alemanha com a Segunda Guerra Mundial e 50%, com o ditador nazista Adolf Hitler.
Mais: o último país que eles gostariam de visitar na Europa é a Alemanha (43%), ainda menos que a destruída Bósnia (26%).
Entre os entrevistados, dois terços acreditam que deveria haver uma moeda única -e que esta deveria ser a libra esterlina.
O presidente da Comissão Européia, principal órgão executivo da UE, disse que a posição do Reino Unido como membro do clube europeu está sendo contestada.
Jacques Santer, que teve sua eleição apoiada pelos britânicos, acredita que a "guerra da carne" não ajuda nenhum dos lados. "Levanta-se uma nuvem de poeira", disse.
Para o pesquisador Maller, ainda não é hora para um "terrorismo germânico". "Ninguém vai jogar bombas sobre nós. Pelo contrário, até agora até os tablóides sensacionalistas alemães não radicalizaram, embora creio que isso seja uma barreira editorial natural: a Alemanha tem medo de que a Europa ache que ela é nacionalista."
Na França, atual parceira da Alemanha de Helmut Kohl, os jornais condenaram como "terrorismo" e "crime inglês" a revelação de que os britânicos venderam ração supostamente contaminada com a "doença da vaca louca".
"Isso mostra o clima. Mas é tudo culpa da fraquíssima posição do governo britânico nas negociações", disse Michael Hodges, professor da London School of Economics.

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