São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 1996 |
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Não vale repetir café da manhã
MARCELO RUBENS PAIVA
Luís Marcos, eletricista desempregado, "trecheiro" com um walkman ligado, explica que ouve o noticiário e a "Voz do Brasil" para saber "o que está acontecendo no Executivo e Judiciário". "É uma falta de vergonha dos poderosos esses juros altos. Precisavam criar novos empregos". Marcos tem um discurso comum a muitos: está para receber o pagamento da firma, diz que é muito melhor dormir no albergue do que na rua, "sem preocupação de ser atingido por uma pedrada". Donato Rodrigues, 20, diz que já foi jornalista, e que atualmente ajuda a montar o Sindicato dos Abandonados. "A rua está muito violenta. Morreram mais de mil abandonados este ano. Um mata o outro com facada, paulada e veneno. Já fui assaltado cinco vezes." Segundo Rodrigues, a Avim é o melhor albergue, já que em outros há "venda de crack e embalo nas madrugadas". Adail Vettorazzo, secretário municipal da Fabes, discorda. Ele diz que a média de morte dos desabrigados é de 4 a 6 por mês e que os padrões dos albergues da prefeitura "estão bem razoáveis". Poucos "trecheiros" assumem ser desocupados. A maioria diz ser desempregada. Alguns confessam que saem para "encharcar" (pedir esmolas). Outros saem por não ter o que fazer. (MRP) Texto Anterior: Prefeitura paga R$ 2,85 por desabrigado Índice |
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