São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 1996
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Contradição cerca a morte de PC Farias

DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ; DO ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ

A morte de Paulo César Farias, 50, continua cercada de contradições. O corpo de Suzana Marcolino da Silva, 28, encontrada morta ao lado do empresário anteontem em Maceió, apresentava um "calombo" roxo na testa, de 4 cm de diâmetro, e uma marca de 2 cm na parte interna do lábio superior, aparentando um corte.
As marcas, constatadas pela Folha, indicam que Suzana teria sido agredida antes de morrer com um tiro no peito. Para a polícia e perícia, Suzana não sofreu agressões na noite do crime.
PC Farias e Suzana foram enterrados ontem, às 15h e 10h, respectivamente, no cemitério Parque das Flores, em Maceió.
Na versão da Polícia Civil de Alagoas, não houve luta corporal antes da morte do casal.
Suzana, segundo a polícia, teria matado Paulo César Farias com um tiro, enquanto ele dormia, e depois se suicidado. O crime teria motivos passionais. Ontem, a família de PC já assumia essa tese.
A família de Suzana discorda. E os últimos relatos de pessoas que estiveram com ela não indicam qualquer intenção de suicídio.
"Manchas são hemorragias"
O diretor do IML (Instituto Médico Legal) de Alagoas, Marco Antônio Peixoto, 47, responsável pela autópsia, afirma que os corpos não tinham lesões internas ou externas resultantes de luta corporal.
"Essas manchas são decorrentes de hemorragias", diz o médico.
O legista Nelson Massini, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, disse à Folha que a mancha no rosto da namorada de PC Farias é um "forte indicativo" de lesão ocorrida antes da morte.
O delegado Cícero Torres, responsável pelas investigações do assassinato de PC Farias, afirmou ontem não ter mais dúvidas de que o tiro que matou o ex-tesoureiro de ex-presidente Fernando Collor foi disparado por Suzana.
"Minha convicção de que Suzana matou Paulo César e depois se suicidou está baseada no que a perícia e a autópsia já apuraram."
O primeiro indício usado pela tese do delegado Torres é o de que a necropsia atestou que havia pólvora na mão direita de Suzana.
Não-profissional
Outro argumento do delegado é o fato de os tiros não terem sido disparados por um profissional.
"Se fosse um profissional, fazendo um trabalho de queima de arquivo, teria dado um tiro certeiro no coração ou na cabeça de PC."
O outro argumento usado pela tese do delegado refere-se às três horas de discussões entre PC e a namorada, ouvidas pelos seguranças entre a 1h da madrugada de domingo e às 4h10 (ver quadro).
O delegado afirmou que as discussões devem ter sido em decorrência do fato de que PC planejava terminar seu namoro com Suzana, que tinha planos opostos: queria se casar com o empresário.
Segundo relato, em Nova York, de Mira Lepori, 50, que teria dado aconselhamento espiritual a PC há alguns meses, o empresário disse estar apaixonado por "uma mulher da alta sociedade de Maceió".
Auxiliares de PC Farias disseram ontem que o relacionamento entre os dois andava tumultuado e que a família não aprovava o namoro.
Um dos motivos era o fato de Suzana ser bem conhecida no circuito político alagoano e de já ter namorado o ex-presidente Collor.
A família de PC achava que Suzana era uma "alpinista social", que se relacionava com homens ricos para ter vida confortável.

LEIA MAIS sobre a morte de PC Farias da 1-9 a 1-12.

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