São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 1996
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Corpo de namorada tinha hematoma

LUCAS FIGUEIREDO

LUCAS FIGUEIREDO; EMANUEL NERI; ARI CIPOLA
ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ

Diretor do IML nega luta corporal; especialista diz que manchas e corte precedem à morte de Suzana

O corpo de Suzana Marcolino da Silva, enterrado ontem, apresentava uma mancha roxa na testa e uma marca de 2 cm na parte interna do lábio superior, aparentando um corte.
A constatação foi feita ontem de madrugada pela Folha, com autorização do irmão de Suzana, Jerônimo Marcolino, 29.
Na versão da Polícia Civil de Alagoas, não houve luta corporal. Suzana teria matado Paulo César Farias com um tiro, enquanto ele dormia, e depois se suicidado -também com um tiro.
O diretor do IML (Instituto Médico Legal) de Alagoas, Marco Antônio Peixoto, 47, responsável pela autópsia, afirma que os corpos não tinham lesões internas ou externas resultantes de luta corporal.
"Essas manchas são decorrentes de hemorragias. Paulo César estava com as costas e a coxa direita roxas também devido a hemorragias", diz o médico.
A autópsia, cujo laudo ainda não foi expedido, mostra que a causa da morte foi hemorragia aguda, em consequência de ferimento por arma de fogo.
Dúvida
O legista Nelson Massini, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, disse ontem que a mancha vista no rosto da namorada de PC Farias é um "forte indicativo" de lesão pré-mortal, que pode ter sido provocada por luta corporal.
Massini fez questão de ressaltar que não conhece o laudo sobre as mortes e que "confia" no trabalho dos legistas alagoanos. Mas, segundo ele, um tiro no peito como ocorreu com a namorada de PC, não provoca lesão no rosto.
No caso de tiro no peito, segundo Massini, o máximo que poderia ocorrer é sangramento pela boca ou pelo nariz.
"Se há lesões no rosto é porque pode ter havido outro fato anterior à morte", disse.
Massini afirmou que, em caso de tiro dado nas costas, a pessoa pode cair de frente e machucar o rosto. Mas esse não foi o caso da namorada de PC. A versão oficial diz que, após matar PC, ela deu o tiro no peito.
Escova e unhas
Reconstituição das últimas horas de vida de Suzana demonstra que ela não teve comportamento atípico. Às 12h de sábado passado, chegou a Maceió, vinda de São Paulo, onde fez tratamento dentário e compras para sua butique.
"Ela estava normal. Falou sobre os planos da loja que iria inaugurar e dormiu durante a tarde", afirma a mãe de Suzana, Maria Auxiliadora Braulio.
Depois de acordar, Suzana foi ao salão de beleza Liu's, no centro de Maceió. A Folha localizou a cabeleireira Rosa Maria Alves de Souza, 33, que atendeu Suzana. "Ela chegou muito animada, como sempre, e saiu pouco antes de 20h, sorrindo", afirma Rosa Maria.
Suzana pintou as unhas com o esmalte da cor renda (variação de branco). Ela recusou corte na franja, como sugeriu a cabeleireira, afirmando que PC não gostaria.
Depois do salão de beleza, Suzana passou na loja A&S Modas e foi direto para a casa de Paulo César, onde jantou com os irmãos do namorado Augusto e Cláudio Farias.
"Ela parecia normal", disse Augusto, última pessoa a ver Suzana com vida. "Tomamos uísque e conversamos. Não deu para notar que era uma pessoa perturbada", afirma o irmão de PC.

(Colaboraram Emanuel Neri, da Reportagem Local, e Ari Cipola, da Agência Folha)

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