São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 1996
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Filhos de PC são mantidos sob remédios

DOS ENVIADOS ESPECIAIS A MACEIÓ

Paulo Farias, 14, filho mais novo de Paulo César Farias, teve uma crise nervosa quando soube que o pai havia sido assassinado.
Após ser acalmado, perguntou ao tio Augusto Farias: "Vale a pena viver?".
"Foi preciso três pessoas para segurá-lo. Ele queria gritar e correr", afirmou Augusto, que contou aos adolescentes que o pai havia sido morto.
Desde que souberam da morte de PC, no início da tarde de domingo, médicos que acompanham a família têm receitado fortes doses de calmantes.
Ontem, durante uma missa que antecedeu o sepultamento de PC, os dois passaram muito mal.
Ingrid chegou a se jogar sobre o caixão no qual estava o corpo do pai, Paulo chorava a ponto de perder a voz.
"Quero me acabar também", dizia, no caminho entre a Tratoral, empresa do pai onde aconteceu o velório, e o cemitério Parque das Flores, local do sepultamento.
Chegada
Paulinho, como era chamado, e a irmã Ingrid, 16, haviam chegado da Suíça, onde estudam em regime de internato, dois dias antes da morte do pai.
PC pretendia passar junto dos filhos os 90 dias que eles têm de férias.
Os filhos de PC chegaram ao velório do pai às 23h de anteontem. Paulinho, como era chamado, não chorou e agia como se estivesse em estado de choque: olhos arregalados e olhar fixo. Chegou a piscar os olhos com força e balançar a cabeça. No enterro, chorou.
Ingrid, que havia trazido para o pai uma garrafa de uísque envelhecido 65 anos, chorou todo o tempo que esteve junto ao caixão com o corpo de Paulo César.
No sábado, poucas horas antes de morrer, PC serviu o uísque à namorada Suzana Marcolino da Silva e aos irmãos Augusto, que estava acompanhado da namorada, e Cláudio Farias.
Herança
Os filhos de PC herdam, entre outros bens, a Tratoral (maior revendedora de tratores do Estado), parte do jornal "Tribuna de Alagoas", que será lançado em breve, e da Brumare (maior revendedora de veículos Fiat nas regiões Norte e Nordeste).
Elma Farias, mãe de Paulo Farias e Ingrid, morreu em julho de 1994, de infarto.
Ainda não está definido quem será o tutor dos filhos de Paulo César. Segundo Augusto, o futuro de Paulinho e Ingrid ainda deverá ser decidido em reuniões que serão realizadas nos próximos dias.
Ingrid e Paulo receberam indicações de remédios para suportarem a dor da ausência do pai.
Família
Há dois anos, perderam a mãe, Elma. O avô, Gilberto, morreu neste ano. Está enterrado no mesmo lugar onde PC foi sepultado ontem.
O sofrimento de Paulo e Ingrid, por causa do pai, começou ainda em 1992. Eles eram xingados na escola, em Maceió, por serem filhos de PC.
Passaram a ter problemas e o acompanhamento diário de psicólogos para evitar futuros traumas.
"Eu vou com você, papai", gritava ontem Ingrid, minutos antes do corpo de PC Farias descer à sepultura.
Um frei e um padre que faziam orações diziam que o pai havia sido um grande homem, um "patriota". Para Ingrid e Paulo, as orações não serviam de nenhum conforto.
"Todas as nossas atenções estão voltadas para essas crianças, que vão enfrentar uma situação absurda", dizia ontem médico e irmão de PC Luiz Romero Farias.

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