São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Eurocopa-96 é 'estopim' para o racismo no futebol

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

O racismo no futebol volta a ser motivo de polêmica nesta semana decisiva da Eurocopa, torneio que acabou servindo de "estopim" para o preconceiro contra os jogadores negros que atuam na Europa.
Jean-Marie Le Pen, líder ultranacionalista francês, comentou no domingo -um dia depois da classificação da França para as semifinais da Euro-96- sua frustração pela maioria dos jogadores da seleção de seu país ser "artificial".
Le Pen, que conta com 15% do eleitorado francês, não considera os atletas negros oriundos de colônias como sendo aptos a representar a seleção e os criticou por não cantarem o hino nacional.
As declarações do líder francês geraram muita polêmica na Europa. Os jogadores da França, concentrados para o jogo de amanhã, contra os tchecos, pelas semifinais da Euro-96, foram surpreendidos com o pronunciamento de Le Pen.
"Essas declarações me decepcionam. Estou solidário com os jogadores atacados", declarou o capitão do time, Deschamps.
O volante Desailly, um dos negros da equipe, respondeu com indignação a Le Pen.
"Se há negros ou não no time, se cantamos ou não o hino, isso não me interessa. Sou francês e uso a camisa da seleção", disse.
Jean-Pierre Hureau, dirigente francês, também partiu em defesa dos atletas que foram atacados.
"Quero lembrar a importância dos negros em todas as modalidades. Sem esses jogadores, não teríamos obtido os resultados que conseguimos", diz Hureau.
Racha holandês
Um dos motivos da desclassificação da Holanda foram as brigas no elenco. O meia Davids, negro de origem surinamesa, foi mandado de volta à Holanda após discutir com o técnico Guus Hiddink.
O jogador, que foi comprado pelo Milan junto ao Ajax, declarou posteriormente que o treinador é racista e "protege" alguns atletas, especialmente Blind e Ronald de Boer -ambos são brancos.
Davids chegou a afirmar que, na seleção da Holanda, "os escurinhos têm que jogar mais".
O meia Seedorf, outro negro da equipe, mostrou solidariedade às críticas feitas por Davids e perdeu a posição de titular no time.
O jogador, após errar o pênalti que eliminou a Holanda, foi confortado por Kluivert, Reiziger e Bogarde, negros que atuam em seu time, e Lama e Karembeu, negros que defendem a seleção francesa.
Os brasileiros
Jogadores brasileiros que atuam na Europa, como o atacante Paulo Sérgio, do Bayer Leverkusen, também já sofreram com o racismo.
O zagueiro Júlio César, que defendeu a Juventus e o Borussia Dortmund, foi vítima de preconceito na Itália e na Alemanha.

Com agências internacionais

Texto Anterior: Juiz culpa defensivismo
Próximo Texto: O fim das Copas?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.