São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 1996
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Jobim duvida da hipótese de crime passional

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Justiça, Nelson Jobim, demonstrou ontem duvidar da tese de crime passional para justificar as mortes do empresário Paulo César Farias e de sua namorada, Suzana Marcolino
"Você já viu crime passional com um tiro só?", indagou o ministro a um grupo de jornalistas que conversava com ele no estacionamento do Anexo 2 da Câmara, pela manhã, após uma audiência pública.
Jobim disse, informalmente, que não acreditava que Suzana Marcolino da Silva, a namorada de PC, tivesse cometido homicídio. "Não se mata a entidade mantenedora", afirmou Jobim, rindo.
Oficialmente, o ministro se nega a fazer qualquer comentário sobre o crime.
"Não trabalho com hipóteses, trabalho com fatos. Hipóteses deixo para vocês (jornalistas) fazerem", afirmou o ministro.
Espingarda
Mais cedo, antes de participar da audiência pública que discutiu a criação do Conselho Nacional de Justiça, Jobim comentou as declarações do deputado Augusto Farias (PPB-AL).
Anteontem, o deputado teria ameaçado usar uma espingarda para evitar que o corpo do irmão, PC, fosse exumado pelos legistas da Universidade de Campinas.
"Exumação é uma decisão de um juiz. Se a polícia requerer a exumação fundamentada, e o juiz entender necessária, ela será feita, quer alguém queira ou não", disse Jobim.
"Esse é um Estado democrático de direito e não vai se permitir nem tolerar qualquer tipo de reação", afirmou o ministro.
Críticas sem resposta
O ministro preferiu não comentar as críticas que o deputado teria feito à participação da Polícia Federal nas investigações do crime e à atuação da PF em outros casos.
Augusto Farias citou os problemas nas investigações da PF no episódio do atentado a bomba no Itamaraty como exemplo.
"Não tenho opinião a respeito. Não emito nenhum juízo especulativo sobre condutas. O juízo que a gente pode ter é em cima do resultado do inquérito e não através de ilações a respeito de condutas", afirmou.
Sem informação
Até ontem, no fim da tarde, Jobim não tinha recebido informações sobre os trabalhos dos agentes da PF em Alagoas.
Ele disse que não tem pressa em saber de resultados das apurações em Maceió.
Segundo Jobim, em investigações como essas, é preciso sobretudo paciência. "É preciso ter calma", completou.
Na opinião de Jobim, os bens de PC colocados sob bloqueio para garantir o pagamento de débitos fiscais, determinado pela Justiça durante o processo por sonegação fiscal contra o empresário, não devem ser liberados. Segundo Jobim, a morte de PC não liquida as ações tributárias contra ele.

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