São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 1996
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Zélia diz ao STF que recebeu uma 'doação familiar'

SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A ex-ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, disse no Supremo Tribunal Federal que a reforma em sua casa foi feita com uma doação familiar de US$ 40 mil, feita em dinheiro e sem recibo.
Ela negou a acusação de que tivesse usado recursos do esquema PC, em 1990, para pagar despesas pessoais, como a reforma de sua casa, em São Paulo, e viagens dela e da mãe ao exterior.
A ex-ministra afirmou que um primo, o banqueiro Luiz Afonso Cardozo de Mello Álvares Otero (Banco Pebb), fez a doação em transação direta, omitida na declaração de rendimentos. A omissão resultou em uma autuação da Receita Federal em São Paulo.
No depoimento ao STF, a ex-ministra afirmou ter pago as despesas com a doação, com um empréstimo de Cr$ 11 milhões, com a venda de um relógio de ouro e de um quadro do artista plástico Batista da Costa, além de sobras de diárias de viagens no valor de US$ 8.000.
Zélia disse que todas as despesas eram pagas por seu ex-secretário particular João Carlos Camargo e que, em nenhum momento, lhe ocorreu pedir recibos ou prestações de contas.
O depoimento durou seis horas. Se for condenada por corrupção passiva, Zélia pode receber pena de até oito anos de prisão.
Zélia também disse não se lembrar dos valores exatos das receitas e despesas pessoais nos 14 meses em que foi ministra da Economia (a partir de março de 90).
A doação feita pelo "primo rico" teria variado entre US$ 35 mil e US$ 40 mil. A doação foi destinada, segundo ela, à reforma de sua casa (praça Morumbaga, 116, São Paulo), que custou entre US$ 40 mil e US$ 50 mil.
"Mas a senhora não teve o interesse de saber quanto lhe custou essa obra?", indagou o ministro Néri da Silveira.
"Não houve nunca uma efetiva prestação de contas (com o ex-assessor). Nas prestações informais e no acerto final que fizemos em agosto de 91, vi que a despesa com a reforma de minha casaficou em torno de US$ 50 mil", respondeu Zélia.
A ex-ministra negou que tenha recebido propina para reajustar em 17,4% as tarifas de transporte interestadual em setembro de 90.
Um dia antes, a Rodonal (Associação de Empresas de Transporte Rodoviário Interestadual e Internacional) havia depositado US$ 813 mil na conta da EPC, empresa de Paulo César Farias, segundo a Polícia Federal.
As investigações da PF revelaram que parte desses recursos foi transferida para uma conta corrente de João Carlos Camargo, no Banorte, por meio de depósitos feitos por "fantasmas".
Essa conta foi usada por Camargo para pagamento das despesas da ex-ministra, como a obra de reforma da casa.

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