São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 1996
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RISCOS FORA DE LUGAR

Os riscos potenciais associados à dinâmica financeira globalizada voltaram a ser objeto de preocupação, às vésperas da reunião do G-7 em Lyon, com uma declaração de Michel Camdessus, diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional). Para o alto funcionário, a economia mundial estaria na iminência de sofrer uma grave crise bancária.
Por coincidência, no mesmo dia era divulgado um relatório da Standard & Poor's, agência norte-americana de avaliação de riscos, que afirma ser o sistema bancário brasileiro o de maior risco na América Latina.
Entretanto, sem que se possam ou mesmo devam subestimar os efeitos negativos dessa avaliação do Brasil, é preciso colocá-la em perspectiva.
Em primeiro lugar, parece evidente que convivem no sistema mundial riscos globais e locais, sem que se saiba exatamente de onde poderia surgir a fagulha capaz de precipitar uma eventual catástrofe.
Aliás, muito comumente a fagulha vem dos países desenvolvidos. As crises mexicanas de 1982 e 1994 foram precedidas de fortes altas das taxas de juros internacionais.
Em segundo lugar, a crise mexicana de 1994 mostrou que há limites políticos às possíveis turbulências do sistema financeiro. O próprio FMI, assim como o governo americano, garantiram recursos para evitar uma "débâcle" global. O mesmo raciocínio vale para os mercados locais: apesar dos custos fiscais, os governos (não apenas da América Latina) têm injetado recursos nos sistemas financeiros sempre que necessário, em muitos casos evitando o pior.
Riscos financeiros e atividade especulativa existem desde que o capitalismo existe. O problema global novo, hoje, é antes de tudo a enorme dificuldade de produzir uma nova onda de crescimento econômico e coordenação entre políticas econômicas. A instabilidade financeira, nesse contexto, é um sintoma, não uma causa. Menos ainda uma causa que supostamente teria origem nos países menos desenvolvidos.

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