São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 1996
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Vida de rico

CLÓVIS ROSSI

Lyon - Convido o leitor a uma visita ao Palácio de Congressos de Lyon. É o QG da cúpula-96 do G-7, o clubão dos sete países mais ricos do mundo.
Vamos direto ao terraço, fazendo o sacrifício de desprezar o bar dito VIP, mas que não deve ser tão VIP assim, já que os jornalistas têm livre acesso a ele e a seus sucos, cafés e vinhos de graça.
Dê uma olhadinha lá para baixo e veja o cenário: o mundo de verde da Cidade Internacional, um grande parque nas bordas da cidade. E o rio Reno deslizando mansamente.
É diante desse paraíso que os homens que decidem os destinos do mundo discutem problemas como o terrorismo ou a assistência aos países miseráveis do planeta.
Façamos agora de conta que pegamos uma carona num dos Cadillacs blindados que os Estados Unidos trouxeram de Washington especialmente para transportar o presidente Bill Clinton e sua mulher, Hillary.
Só em um desses é possível chegar ao Hôtel de Ville, a Prefeitura de Lyon, onde se realizava, ontem à noite, o jantar inaugural da cúpula. Adivinhe quem veio cozinhar para os governantes? Quatro dos mais conhecidos "chefs" de uma região famosa pelo sua gastronomia.
Quem prepara o peixe é Paul Bocuse. A sobremesa fica por conta de Pierre Troisgros, só para mencionar os tão famosos que a fama chegou até "là-bas", ou seja, ao Brasil.
É óbvio que não se espera que presidentes se reúnam na favela da Rocinha ou comam no "sujinho" da esquina.
Mas a distância que os separa do mundo real está ficando tão enorme que fica difícil acreditar que possam de fato entendê-lo e, por extensão, tentar resolver seus problemas.
Pior: estão aburguesando os jornalistas. O restaurante boca-livre para eles oferecia, ontem, desde presunto cru com melão até vitela, passando por queijos (franceses, claro) e vinho (Beaujolais, óbvio).

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