São Paulo, sábado, 29 de junho de 1996
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G-7 pede controle mais eficaz de mercado

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LYON

Os países mais ricos do mundo, no comunicado econômico de sua reunião anual de cúpula, preconizaram "a criação de dispositivos mais concretos e eficazes para enfrentar os riscos ligados ao funcionamento dos mercados financeiros no contexto da globalização".
Em entrevista coletiva após a emissão do comunicado, o presidente francês, Jacques Chirac, traduziu a causa da inquietação: "Os mercados financeiros têm uma amplitude e uma força tais que ou se tomam medidas de prudência (a respeito deles) ou pode haver consequências catastróficas".
Quais medidas, exatamente, Chirac não explicou, até porque os governantes do G-7 (EUA, Canadá, França, Itália, Reino Unido, Alemanha e Japão) incumbiram ministros especializados de preparar um relatório sobre a matéria, a ser submetido na próxima cúpula (nos EUA, em junho de 1997).
O comunicado enfatiza que "uma regulamentação prudente reforçada e uma melhor supervisão dos mercados financeiros são essenciais para proteger a estabilidade do sistema monetário e financeiro internacional".
Chirac, de todo modo, incumbiu-se de pôr números na "amplitude" dos mercados financeiros: só as transações com divisas entre países movimentam, por dia, a pilha de US$ 1,2 trilhão, pouco mais do que o dobro do tamanho da economia brasileira.
Aviso prévio
É natural que haja inquietação, ainda mais depois da crise mexicana do final de 1994.
Já na cúpula anterior, no Canadá, o G-7 propusera uma série de medidas para prevenir crises do estilo mexicano. A principal delas foi batizada de "early warning" (aviso em tempo hábil sobre a iminência de crise em algum país).
Tomou a forma, implementada pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), de um sistema mais acurado de divulgação de dados econômicos e financeiros.
O fato de que o G-7, um ano depois, peça providências adicionais indica que os riscos permanecem elevados.
O que, de resto, coincide com a previsão do diretor-gerente do FMI, o francês Michel Camdessus, às vésperas do G-7, de que a próxima "sacudida" pode ser a do sistema bancário internacional. Para ele, está "em pedaços".
Para o Brasil
O documento da cúpula, nessa matéria, reserva um capítulo para os "países emergentes", entre os quais se inclui o Brasil.
Cita, entre os objetivos a alcançar para maior segurança no sistema: "Encorajar a adoção de normas prudentes rigorosas nas economias emergentes e reforçar a cooperação com as autoridades de tutela (em geral, os bancos centrais); as instituições financeiras internacionais devem acentuar seus esforços a fim de promover estruturas de controle eficazes nesses países".
Depois das crises do Nacional e do Econômico e das críticas ao Banco Central pela fiscalização nessas instituições, parece um parágrafo destinado ao Brasil.
Ainda mais que a Standard & Poor's, agência americana de avaliação de riscos de crédito, definiu o sistema bancário brasileiro como o de maior risco entre os grandes países da América Latina.
O texto do G-7, ao remeter a questão para a próxima cúpula, deixa aberta a hipótese defendida pela França em documento prévio ao encontro de Lyon.
"As autoridades francesas e algumas outras desejam que mecanismos possam ser criados a fim de limitar a especulação. Resta ver se é possível, nessa questão, tomar medidas eficazes", dizia o documento. Continua valendo.

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