São Paulo, sábado, 29 de junho de 1996
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Grupo quer criar 'metro social'

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

O comunicado econômico emitido ontem pela cúpula anual do G-7, os sete países mais ricos do mundo, preconiza a criação de uma espécie de "metro social" para avaliar o desempenho dos países em desenvolvimento nessa área.
O texto defende uma "nova parceria global entre os países em desenvolvimento, os países desenvolvidos e as instituições multilaterais" (como a ONU).
"Sublinhamos a utilidade de indicadores destinados a medir, em certos países, os progressos realizados em relação aos objetivos do desenvolvimento: redução da extrema pobreza, da mortalidade infantil e materna, generalização do ensino primário", diz documento.
O "metro social", se aplicado pelos organismos multilaterais, será um instrumento eficaz para resolver polêmicas como a suscitada pelos indicadores de desenvolvimento humano do Brasil.
Desigualdades
O texto econômico põe a ênfase, embora retórica, na convicção de que "o investimento no homem é tão vital quanto em capital".
Por isso, ele prega, como um objetivo da "nova parceria", o "desenvolvimento sustentável", todo ele assentado nas questões sociais.
Cita a redução da pobreza e das desigualdades sociais, respeito às normas de trabalho internacionalmente reconhecidas, proteção das crianças, reforço da sociedade civil, proteção do meio ambiente e melhoria da saúde e da educação.
Ocorre que o G-7 não está exatamente em condições de dar lições ao mundo em desenvolvimento em alguns desses itens.
Desigualdade social, por exemplo: nos EUA, a renda real (descontada a inflação) dos lares situados entre os 20% mais pobres caiu 19% entre 1978 e 1993, ao passo que a dos 20% mais ricos aumentou 18% no mesmo período.
Consequência óbvia: crescimento da brecha, já grande, entre ricos e pobres, um fenômeno não exclusivo do chamado Terceiro Mundo.
Na Europa, embora a brecha social seja bem menor, o desemprego elevado produz mais desigualdades, como é óbvio.
Emprego e políticas
No item emprego, o comunicado do G-7 diz que "o desemprego se mantém em um nível inaceitável em numerosos países".
Resposta para esse fenômeno: a mesma dada na cúpula especial sobre o emprego, realizada em abril, também na França. Ou seja, "políticas econômicas orientadas para um crescimento sustentado e não-inflacionário".
Traduzindo: a manutenção e/ou intensificação do rigor fiscal (austeridade nas contas públicas) e monetário (custo do dinheiro razoavelmente elevado).
Para o G-7, esse tipo de política é "precondição indispensável para a criação de empregos e a redução do desemprego".
Nos EUA, até que tem funcionado (o desemprego, em maio, estava em 5,6% da força de trabalho, contra aproximadamente o dobro na Alemanha, Itália e França).
Mas o presidente Jacques Chirac, matizou esse aspecto positivo do modelo americano: "Os EUA criaram muitos empregos, mas há divergências importantes na avaliação da natureza desses empregos". Chirac fica entre os que acham que, se foram "criados muitos empregos de qualidade, bem pagos, também há muito emprego mal pago".
(CR)

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