São Paulo, sábado, 29 de junho de 1996
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O crime e a confusão

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Nem por gosto e muito menos vocação, durante alguns anos fui obrigado a dedicar-me à reportagem do crime. Não podendo escrever sobre os assuntos de que gosto, aceitei cobrir alguns casos que traumatizaram aquilo que costumam chamar de "crônica policial da cidade".
No primeiro deles (um hippie argentino assassinara uma jovem rica, filha de uma autoridade), conheci um velho comissário que foi logo me dizendo: "Se um crime não é explicado e resolvido nas primeiras 24 horas, nunca mais o será".
Antes de mais nada, a investigação precisa estabelecer uma teoria a partir da única realidade existente: o cadáver. Depois, encaixar as circunstâncias dentro da teoria. Finalmente, elencar os suspeitos e aí, com uma dose de sorte, chegar ao culpado ou culpados.
Fora disso -dizia-me ele-, os casos de morte no Brasil só se resolvem com a confissão do criminoso. Se o sujeito não vai à polícia, bate no peito e diz: "Fui eu!", nada feito. Ainda assim, há sempre a possibilidade de um psicopata confessar crime que não cometeu.
Presenciei barbaridades no setor. O que há de crimes que não foram explicados e resolvidos daria para encher uma enciclopédia. A culpa não é apenas da polícia. É da imprensa (cada repórter cria sua própria teoria ou adere à de um policial amigo). Em busca de exposição, advogados se atiram no caso, apresentam testemunhas catimbadas, sem falar nas testemunhas que se apresentam e que nada têm a testemunhar.
Quem matou Baumgarten? Quem matou o bancário Afrânio no Sacopã? Como foi que Cláudia Lessin Rodrigues morreu realmente? No caso Lou houve duas mortes, apenas uma foi explicada e punida, a outra ficou impune. Nos Estados Unidos, o caso O.J. Simpson teve dois assassinados e nenhum assassino. Em Maceió, também tivemos dois mortos e dificilmente teremos uma solução.

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