São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
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Economistas fazem críticas ao câmbio

Para Delfim e Campos, taxa é maior defeito

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dois dos principais formadores da opinião econômica do Congresso, os deputados Delfim Netto (PPB-SP) e Roberto Campos (PPB-RJ), apontam a taxa de câmbio e o ritmo lento das privatizações como os principais defeitos do Plano Real.
No mais, praticamente concordam com o governo. A seguir, a análise de Delfim e Campos:
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CRESCIMENTO - Campos e Delfim acham perfeitamente possível que a economia esteja crescendo cerca de 6% ao ano em dezembro. Se o crescimento será desprovido de altos e baixos, não sabem dizer.
Campos é mais otimista: "Talvez, com as privatizações e com a entrada das empresas internacionais em telecomunicações haja um surto de desenvolvimento".
Para Delfim, "só a experiência vai dizer se essas experiências, adotadas agora para estimular a exportação, são suficientes".
CÂMBIO - "O Delfim exagera ao enfatizar o câmbio", diz Campos. Para ele, há formas de compensar a sobrevalorização, como reduzir custos portuários, desregulamentar, financiar exportadores, eliminar tributos e melhorar a infra-estrutura de transportes.
"O Gustavo Franco (diretor do Banco Central) tem razão. Houve uma sobrevalorização inicial do Real, embora ele não confesse isso. Mas o Brasil precisava voltar a atrair capitais. O que ele faz está correto: escorrega o câmbio aos poucos, seguindo o aumento de preços no atacado", diz Campos.
Delfim discorda: "Tem que mudar a política de câmbio. O crescimento só pode ser estável e durável com um vigoroso crescimento das exportações. Nos enganaram 12 meses com essa história de 'Custo Brasil'. Agora, começam a tomar medidas importantes, de estímulo à exportação e à agricultura".
PRIVATIZAÇÃO - Campos é o grande porta-voz da bandeira. Está satisfeito, até agora, com o ministro do Planejamento, Antonio Kandir. "Ele é mais humilde que o Serra (ex-ministro). E mais entusiasta da privatização. Esse pessoal da AP (Ação Popular, organização de esquerda da qual Serra participou) sempre tem problema com a venda de estatais. Têm sotaque de francês falando guarani", brinca.
EMPREGO - Delfim e Campos estão céticos. Acham que a oferta de emprego jamais crescerá no mesmo ritmo do avanço da economia.
O raciocínio de Delfim: "Ao morrer a religião marxista, eliminou-se o mecanismo de correção. Abriu-se um vácuo. No lugar dessa religião ficou a ideologia mercadista. Muito poderosa, conquistou a todos. No mundo inteiro.
"A maioria da população acha que desemprego é ruim, mas o considera justo. Só que o velhinho que morre no meio do caminho já morreu, está morto, enterrado".
O pensamento de Campos: "O emprego não vai crescer no ritmo do produto. É assim em toda a história. Há uma defasagem de oito a dez anos. A economia muda, e os empregos são gerados em outros setores. Isso pode não ser agravado com as privatizações. Ao contrário da Europa, no Brasil a venda de estatais não gera desemprego".
DESCONTROLE - "Com possível crescimento de 6% em dezembro, talvez as importações estejam crescendo em ritmo mais acelerado do que o governo desejaria. Aí, terão de voltar ao 'stop and go'. Voltarão as restrições ao crédito, às importações", prevê Delfim.

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