São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
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90% não completaram o 1º grau

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

O perfil sócio-econômico dos sem-terra, levantado pelo Datafolha em quatro acampamentos distribuídos pelo país, revela que os integrantes do movimento são, na maioria, "excluídos" do campo, pelos indicadores de renda, propriedade e educação escolar.
A pesquisa, inédita, realizada nos acampamentos de Macaxeira (PA), Barriguda (MG), Pontal do Paranapanema (SP) e Alvorada (RS), mostra que o grau de instrução dos acampados é, na média, inferior ao da população rural do país -por sua vez, menor que o da população em geral.
Sem renda
Sem instrução, a maioria dos sem-terra (54%) praticamente não tem renda, pois não trabalha fora do acampamento. Obtém alimentos através de doações (67%).
Inquiridos sobre o bem mais valioso que possuem, 32% disseram não ter nada de valor. As respostas mais comuns dos que afirmam possuir algo foram: eletrodoméstico (19%), casa (9%), animais (7%), carro (3%) e roupa (4%).
Marginalizadas na área rural do país, as famílias de sem-terra envolvidas em invasões cresceram de 20.516, em 1994, para 30.476, no ano passado.
Este ano, até maio, só o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), influenciado pelo PT, já havia comandado 24.507 famílias em invasões.
A ideologia do comando, entretanto, não se estende homogeneamente sobre os acampados. Há 51% de petistas, mas 39% se dizem apartidários. A maioria é a favor da propriedade privada (75%) e os eleitores do tucano FHC empatam com os do petista Lula (35% cada).
O perfil revela também um grupo com média de idade superior ao da população brasileira em geral. Considerados apenas os acampados com mais de 16 anos, há uma preponderância na faixa dos 25 a 44 anos (50%).
Há significativa hegemonia masculina (62% de homens contra 38% de mulheres) e de católicos (82%). Há mais casados (65%) do que na média da população rural (54%). Três a cada quatro acampados têm filhos.
Mais brancos
A pesquisa mostra que, ao contrário de suas lideranças (militantes profissionais que, de tempos em tempos, mudam de local), a maioria dos sem-terra está acampada em seu Estado de origem.
A única exceção é a fazenda Macaxeira (PA), onde há maior número de acampados maranhenses do que paraenses. Não chega a ser uma surpresa: o maior fluxo migratório recebido pelo Pará é originário do Maranhão.

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