São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
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TV funciona ligada a bateria no acampamento da Barriguda

AUGUSTO GAZIR
ENVIADO ESPECIAL A BURITIS (MG)

A maioria (83%) dos integrantes das 600 famílias de sem-terra acampadas na fazenda Barriguda, em Buritis (MG), encontra-se ali há mais de 7 meses e menos de um ano.
Muitos participam de sua primeira ocupação. É o caso de José Humberto Menezes, 33, o Beto. Ele trabalhou sem carteira assinada como meeiro e bóia-fria em Unaí (MG) e hoje vive num dos barracos de 5 m2 com a mulher e dois filhos.
"O pessoal do MST chegou a Unaí e me convidou para ir às reuniões sobre a ocupação. A vida aqui vai ser melhor, como meeiro não dava mais", diz Beto.
Como ele, boa parte dos sem-terra da Barriguda trabalhou como meeiro na região.
Na Barriguda, diferente dos acampamentos em que o MST traz pessoas de outros Estados para a ocupação, os sem-terra já trabalhavam em Buritis ou em outras cidades do noroeste mineiro. Segundo a pesquisa, 79% dos acampados são de Minas Gerais.
Beto conta que, quando era meeiro, tinha de pegar alimentos emprestados do fazendeiro. "Além de trabalhar de graça, a gente acaba se endividando."
Também na primeira ocupação, Geraldo Bartore, 57, trabalhava como vaqueiro, sem carteira assinada, em fazendas da região. "Cansei de trabalhar de graça e ser explorado por fazendeiro."
Com barracas montadas no meio do mato, sem transporte nem água, luz e esgoto, a organização viabiliza o acampamento e a convivência entre os sem-terra.
Preto e branco
"Todos têm de aprender a conviver: preto e branco, católico e crente", diz Euzébio de Oliveira, um dos líderes do acampamento.
Na Barriguda, as famílias se dividem em sete grupos, que se reúnem ao menos uma vez por semana. Cada grupo tem coordenadores para segurança, higiene, animação, educação e alimentação.
Os coordenadores dos grupos têm encontros com a direção do acampamento, formada por sem-terra com mais experiência e integrantes da direção do MST.
"Aqui (na Barriguda), quem decide são as famílias. Se não fosse assim não teria acampamento", afirma Celito Carlos, da direção do acampamento e do MST.
Os sem-terra usam como banheiro cerca de 20 fossas cavadas no acampamento.
Embora o acampamento não disponha de energia elétrica, uma das acampadas possui uma TV, que funciona ligada a uma bateria de carro.
A pesquisa revela que os acampados da Barriguda, na última eleição, votaram em Lula (42%) e FHC (38%).
O acampamento tem, entre os quatro pesquisados, o maior número relativo de pessoas que não completaram o 1º grau -95% dos entrevistados.

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