São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
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Filhos de lavradores são a maioria

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Além de um perfil sócio-econômico semelhante, o que une os sem-terra mineiros, paulistas, gaúchos e paraenses são um passado e um objetivo comuns.
Na grande maioria, são agricultores (76%) e aspiram à independência financeira (62%).
Além de experiência anterior em agricultura, seja como lavrador ou bóia-fria, os acampados têm tradição familiar no campo.
Em 86% dos casos, o pai era agricultor. Dos sem-terra pesquisados, 61% nunca trabalharam na cidade.
Esses resultados desencorajam interpretações de que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) seja composto por pessoas oriundas de regiões urbanas.
Ao contrário disso, a pesquisa Datafolha mostra que, na maioria, são pessoas pobres do meio rural, os chamados excluídos do campo.
Objetivos
Os sem-terra buscam um assentamento porque querem deixar de ser empregados (59%), porque querem produzir para sustentar a família (22%), porque querem trabalhar em cooperativa (8%) ou, ainda, ter um lugar para morar (6%).
"O MST foi o único que conseguiu oferecer esperança para essa gente", afirma Luiz Hafers, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), entidade que organiza os proprietários rurais.
Para ele, a questão dos desassentados e desempregados rurais é grave, mas a sociedade urbana, amplamente majoritária no Brasil, acha o problema desimportante ou simplifica o tema.
"A migração do campo para a cidade é irreversível, salvo promessas mirabolantes", constata o agrônomo e produtor rural Roberto Rodrigues.
Ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, ele se refere à tentativa recente da CUT e do MST de arrebanhar desempregados na cidade para engrossar o movimento.
"É preciso separar os excluídos do campo dos excluídos da cidade. Não acho admissível fazer reforma agrária para quem não tem vocação rural. O problema dos excluídos da cidade deve ser resolvido na cidade", enfatiza.
Outra característica significativa dos entrevistados nos acampamentos é que um em cada cinco já foi proprietário de terra (17%) ou posseiro (3%). Desses, apenas metade mantém a terra.
Política agrícola
"A política agrícola de 1982 para cá eliminou o pequeno produtor rural e marginalizou uma multidão de trabalhadores rurais. A reforma agrária na base da enxada está na contramão da história econômica, mas é indispensável do ponto de vista social", diz Rodrigues.
Hafers e Rodrigues fazem a mesma crítica ao MST: é um movimento político cujos líderes -ou uma parcela deles- não querem de fato assentar pessoas, mas confrontar o governo.
Parceria
A Sociedade Rural Brasileira defende, como alternativa, a oferta de mais empregos rurais. "Um emprego no campo necessita de US$ 5.000 de investimento contra US$ 40 mil para assentar uma pessoa", compara Hafers.
A Sociedade Rural Brasileira tem apresentado às lideranças do MST uma proposta de parceria, através do arrendamento de terras. "A propriedade da terra é obsoleta. O que conta é o capital humano", defende o presidente da SRB.
Por ora, diz Hafers, a reação dos líderes do MST com quem tem conversado tem variado da perplexidade e da surpresa à negação. "Estamos dando um tempo para reflexão, mas vemos a questão com otimismo", afirma.
(JRT)

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