São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para Kandir, será 'bico' crescer 4% em 97

VALDO CRUZ; FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ministro prevê retomada mais consistente, mas acha que governo deve intervir para gerar empregos

O ministro do Planejamento, Antonio Kandir, 43, prevê crescimento sustentado para o país a partir do fim deste ano e ao longo de 97.
Mas não acha que isso seja suficiente para resolver a demanda por emprego. Uma das metas do governo será, segundo Kandir, intervir no mercado de forma a estimular a maior oferta de empregos.
Para o caso de a economia crescer acima do esperado, o ministro sugere o remédio de sempre: controle do crédito.
Mas o ministro que sucedeu a José Serra no cargo não acredita que a velocidade de crescimento da economia fique acima do previsto. Abaixo, os principais trechos da entrevista concedida à Folha:
*
Folha - O presidente falou que o país vai crescer num ritmo de 6% ao ano em dezembro. O sr. poderia detalhar essa previsão?
Antonio Kandir - O nível de produção do fim de 96, comparado ao do fim de 95, deve ter um crescimento em torno de 6%. Esse percentual é uma boa referência.
Isso significa que o crescimento do ano de 96, comparado ao de 95, deve ficar em torno de 3%.
Folha - Quanto o governo prevê de crescimento em 97?
Kandir - Vai ser "bico" crescer de 4% a 4,5% em 97. Isso vai ser a coisa mais fácil do mundo.
Folha - Esse crescimento no fim do ano pode gerar um aumento indesejado de importações?
Kandir - Nesse caso, o grau de certeza nosso é maior. Sabemos que, enquanto não se resolve de uma vez por todas o regime fiscal, é evidente que a economia não crescerá mais do que pode.
A política monetária é poderosa para segurar, mas ela não é poderosa para acionar -porque o crescimento depende da vontade de quem vai investir. Já a contenção depende de quem faz a política monetária.
Folha - O que pode ser feito para conter crescimento?
Kandir - Temos a política monetária e creditícia. Os diversos instrumentos de crédito.
Na verdade, o instrumento mesmo é o instrumento de crédito. Esse é que é importante. Obviamente, o custo de fazer uma retração brusca é sempre muito forte. Isso nós não vamos fazer.
Folha - Falta algum ajuste na área de crédito?
Kandir - Nenhum ajuste. Eu prefiro crescer este ano, ponta a ponta, 4,5% ou 5% e, no ano que vem, continuar crescendo.
Se tem uma coisa que a gente não vai fazer, não quer fazer, é soluços de produção.
Folha - Pois é, mas como é que dá para garantir?
Kandir - Garantir, absolutamente, eu não garanto.
Folha - Haverá algum tipo de medida restritiva neste ano?
Kandir - Nós estamos acompanhando milimetricamente a evolução das contas externas em todas as suas dimensões.
Temos três ações muito orientadas para viabilizar o aumento das exportações. Mais crédito, com a linha de US$ 1 bilhão do BNDES. Vamos privatizar os portos.
Na semana que vem, vou me reunir com os relatores que estão cuidando da parte de desoneração fiscal das exportações.

Texto Anterior: Entre o dr. Pangloss e o bucaneiro
Próximo Texto: "Criar empregos requer política pública"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.