São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
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Brasil evita depender de um só mercado

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LYON

A conjuntura econômica internacional acaba por justificar antiga prática da diplomacia brasileira, a de buscar sempre fazer do país um "global trader" (comerciante global).
Com isso, consegue escapar do risco de dependência de um único mercado, que pode estar em recessão no exato momento em que o Brasil busca, como neste segundo semestre, recuperar-se da anemia do primeiro.
Hoje, o terceiro maior mercado para produtos brasileiros (a Alemanha) está tecnicamente em recessão. A economia do país retrocedeu 0,4% no primeiro trimestre, depois de dois trimestres de estagnação.
Em contrapartida, o Brasil pode apostar no mercado japonês. A economia japonesa cresceu, em termos anualizados, 12,7% no primeiro trimestre, o maior crescimento em 23 anos.
Pode também apostar no moderado crescimento da economia norte-americana, isoladamente o seu maior mercado.
Os EUA vêm crescendo há quatro anos consecutivos e a projeção da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é de novo crescimento neste ano, da ordem de 2,3%.
Comércio e blocos
O crescimento econômico dos países industrializados é fundamental para os demais.
Documento distribuído pelo governo canadense durante a cúpula do G-7 (que reúne os sete países mais ricos), encerrada ontem em Lyon (França), diz que 1% de crescimento nos países ricos gera 0,7% de crescimento nas nações em desenvolvimento.
Para um bom segundo semestre brasileiro, a dificuldade externa é a Europa, que, como bloco, é o principal mercado para o Brasil.
A OCDE prevê que os 20 países europeus que dela fazem parte crescerão, na média, apenas 1,6% este ano.
Ligeiramente menor será o crescimento dos 15 países da União Européia, na faixa de 1,4%.
O Mercosul, que o Brasil integra com Argentina, Paraguai e Uruguai, assinou um acordo com a União Européia cujo ponto de chegada é a criação de uma zona de livre comércio no ano de 2005.
Em geral, acordos de livre comércio têm provocado um forte salto nas trocas entre os países que os integram, antes mesmo que se complete o processo de redução de tarifas alfandegárias.
Foi o caso do Mercosul. Entre 1991, quando se acelera o processo de integração, e 1994, as exportações brasileiras para os seus três parceiros aumentaram, na média anual, 36,99%.
Mas, neste ano, as perspectivas econômicas para a América Latina em seu conjunto não são brilhantes. O crescimento previsto pela OCDE não vai além de 2,5%. Bem menos do que os 4,5% que a OCDE estima para o próprio Brasil.
Em compensação, o Chile, que acaba de assinar tratado de livre comércio com o Mercosul, voltará a explodir, com um crescimento de 6,5%.
O câmbio
O Brasil acabou sendo recompensado com uma vantagem adicional pela característica de "global trader", embora modesto em termos internacionais.
Foi menos afetado do que tenderia a ser pela sobrevalorização do real, no período imediatamente após o lançamento do plano, há dois anos.
Um real sobrevalorizado em relação ao dólar dificulta as exportações e facilita as importações.
Mas, no mesmo momento, o marco alemão e o iene japonês, moedas de dois outros grandes parceiros brasileiros, estavam igualmente sobrevalorizados em relação ao dólar.
Isso compensou, pelo menos em parte, o excessivo valor do real. De lá para cá, no entanto, o marco e o iene registraram recuo (10% e 35%, respectivamente) em relação ao dólar.
Privatização
Por fim, o Brasil pode se beneficiar da catarata de recursos previstos para investimentos em processos de privatização neste ano.
Eles são avaliados em cerca de US$ 85 bilhões, o que corresponde a quase 15% do tamanho da economia brasileira.
Falta apenas definir as regras nas áreas mais atraentes, como energia e telecomunicações.

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