São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
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Ieltsin arregimenta legião de artistas

TONY BARBER
DO "THE INDEPENDENT", EM MOSCOU

Palhaços, mágicos, atores e roqueiros estão sendo convocados pela equipe da campanha de Boris Ieltsin, num esforço final para assegurar a reeleição do presidente na próxima quarta-feira. Apesar dos protestos do campo do neocomunista Guennadi Ziuganov, a televisão e a indústria de entretenimento russas se uniram para passar aos eleitores uma mensagem simples: "Votem em Boris Nikolaievitch".
O apoio dos atores mais populares do país chegou em boa hora, já que o próprio Ieltsin desapareceu misteriosamente das vistas do público desde quarta-feira passada, tendo cancelado três viagens de campanha e deixado de comparecer a uma conferência de agricultores no Kremlin, anteontem. Seu porta-voz de imprensa, Serguei Medvedev, garantiu aos jornalistas que não houve nada anormal.
Na ausência do presidente, a tarefa de atrair eleitores foi delegada a pessoas como Iuri Longo, mágico e "showman" muito conhecido cujos truques incluem a realização de sessões espíritas televisionadas e ressuscitar mortos do necrotério de Moscou.
"Sei que Ieltsin tem uma equipe que lhe está prestando assistência extra-sensorial e força cósmica. A eleição é uma batalha psíquica tremenda para ele, e a ajuda extra-sensorial é muito importante", disse o mágico, prevendo a vitória de Ieltsin.
Iuri Nikulin, um palhaço de 75 anos que é um dos mais admirados da Rússia, ofereceu as seguintes palavras de apoio a Ieltsin, num anúncio na TV: "Nada que é humano lhe é desconhecido, e por isso ele tem meu apoio".
Recordando que Bill Clinton toca saxofone e que Ieltsin (possivelmente sob efeito de um ou dois drinques) já empunhou a batuta do regente de uma banda militar de Berlim e fez alguns gestos com ela, o palhaço afirmou: "Clinton toca sax e nosso presidente rege. Acho que é melhor ser regente".
Leonid Iakubovich, apresentador de um "game show" de enorme audiência na televisão russa chamado "Campo de Milagres", também engrossou o coro.
Com outra figura da TV sempre presente nas manhãs de domingo, Iuri Nikolaiev, Iakubovich decolou quinta-feira num avião esportivo coberto de faixas proclamando "Ieltsin É Nosso Presidente".
Numa campanha extravagante financiada principalmente pela agência publicitária pró-Ieltsin Premier SV, os dois apresentadores vão voar para cinco cidades russas, onde farão shows de graça.
"Eles estão conscientes da importância do momento", disse um porta-voz da agência.
Num país onde milhões de pessoas se interessam por astrologia e fenômenos paranormais, alguma coisa estaria faltando se Ieltsin não tivesse conseguido a aprovação de um astrólogo conhecido.
É aí que entra Pavel Globa, que previu a vitória de Ieltsin "por algumas centenas de votos" e disse que o alinhamento estelar de 1996 se assemelha ao de 1612-13, quando a Rússia emergiu de uma grande turbulência política.
Cientes de que o maior risco de derrota virá se houver baixo nível de comparecimento às urnas, os estrategistas de Ieltsin estão incentivando a juventude anticomunista a votar com o slogan "Vote ou Perca". O roqueiro Bogdan Titomir tenta conquistar platéias cantando: "Sou jovem, vou votar e pedir que ouçam minha opinião, para que o passado não se repita".
Um setor mais conservador da sociedade russa também promete apoiar Ieltsin: os cossacos.
Com memórias recentes da perseguição que sofreram sob o comunismo soviético, era quase certo que os cossacos evitariam votar em Ziuganov, mas apesar disso seu apoio é bem-vindo para Ieltsin, já que no primeiro turno votaram em peso em Alexander Lebed.
"Nossos 913 mil cossacos, desde adolescentes a pessoas de 60, sem falar em seus amigos, irmãos e avós, vão sem dúvida votar em Ieltsin", afirmou Alexander Demin, líder supremo da União Russa de Organizações Cossacas.

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