São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
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'Programa Ana Maria Braga' é um delírio 'gostoso'

SÉRGIO RIBAS
DA REDAÇÃO

O "Programa Ana Maria Braga", atração das noites de sábado na Record, é definido por sua apresentadora -cujo nome está no título- como um musical.
Por tal definição, entenda o seguinte: playback combinado com gritos onomatopéicos da dona da cena, mais som de fundo da banda Três Daqui e Uma de Lá -formada, aliás, por quatro mulheres.
Para completar, obviamente se sua paciência permitir, imagine que o cantor Latino será a estrela de uma noite com atrações assim: grupos Molejo e Nova Cor do Samba, Eliana Pittman e, pasme, um taxista -que canta, claro- "descoberto" pela equipe de olheiros do programa.
Se ainda assim não foi suficiente para a constatação de que sábado é trash, uma dica: entre a depressão e o medo, divirta-se. Porque está armado o mais profano dos circos na tela evangélica.
E aí os cortes absurdos de uma edição às avessas, o desfile de minissaias das convidadas, as risadinhas fakes da mulher com topete punk de laquê, além de uma ou outra entrevistinha no ritmo de quem acabou de tomar um Lexotan, já garantem a graça.
Delírio absoluto quando a apresentadora crê na força da personagem que representa: uma madame versátil que põe no mesmo script o termo bon vivant -se referindo a um dos entrevistados da noite- e a expressão "toca uma flauta maravilhosa" para se referir a uma das integrantes da banda.
Por essas e outras, os seis pontos que ela vem alcançando no Ibope valem o cachê e principalmente a certeza de que, levar a sério esse primor da TV brasileira, é mera pretensão.
Melhor de tudo é anotar algumas frases inesquecíveis da apresentadora, na linha do jargão que avisa sobre o intervalo comercial. Invariavelmente, nessa hora ela diz: "Vou dar uma fugidinha e já volto!". E volta mesmo!
Para perguntar, por exemplo, o seguinte: "Mas vale a pena ser feliz, não vale?". Ou, já mais afirmativa -sobre ela mesma-, depois que a câmera passeia por seu tailleur: "O estilista José Carlos está me deixando cada vez mais linda."
Isso sem falar que o adjetivo mais frequente de seu vocabulário -e vale para tudo- é "gostoso". O assunto é gostoso, o aplauso é gostoso, o cenário é gostoso. Mas cá entre nós, gostoso mesmo é quando entra um ator travestido de mulher e, simulando besteirol, pergunta se ela é Ana Maria Praga. No mais, não dá pra ficar sem Hebe. Que amargo!

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