São Paulo, segunda-feira, 1 de julho de 1996
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Mas vem sem fantasia

LUÍS NASSIF

O grande pêndulo da imprensa começa a se movimentar lentamente para o lado oposto. Até julho do ano passado, o país estava salvo e bastava crer, para o Real acontecer.
Dali em diante, completada a volta, e impulsionado por erros de condução de política econômica, o pêndulo voltou atrás, de tal maneira que, do início do ano para cá, tudo estava perdido.
Agora, por baixo dos escombros deixados pelas políticas de juros e câmbio, percebe-se que o país não morreu. Pelo contrário, há um movimento fervilhante de reestruturações de empresas e setores.
Nos próximos meses, a tendência será gradativamente se descobrir esse novo país, e o movimento do pêndulo levar novamente à visão de que todos os problemas estão resolvidos.
Aí é problema da mídia com os leitores.
Virará problema nacional se o governo se deixar iludir por esses movimentos.
No ano passado, no auge da euforia do Real, praticamente não existia política econômica. Havia ampla inércia no governo, embalada por áulicos despidos de raciocínios. Ficavam uns babãos deslumbrados com o poder a repetir frases vazias, incensando os poderosos, e o governo a dormir sossegado, sem se dar conta de que colhe-se hoje o que se plantou ontem; e vai-se colher amanhã o que se plantar hoje.
O que despertou o governo para o desastre que se avizinhava foram as críticas, que cresceram em intensidade à medida que o desemprego e a quebradeira se alastravam e a área externa ameaçava.
Foram os alertas dos críticos que levaram o governo -mais lentamente do que deveria- a acordar para os problemas e começar a sair da inércia.
Agora, o fato de se constatar que o país não acabou, não pode servir de motivo para se julgar que os problemas acabaram. Há uma série de desafios cruciais pela frente, no front das exportações, na área fiscal e no planejamento setorial, que vão exigir muito empenho, pouco deslumbramento e muita crítica pela frente, para que o país -não o governo- possa superar os últimos empecilhos e recuperar a vocação desenvolvimentista.
Cuba
Nos próximos dias, uma delegação de universidades particulares brasileiras chegará em Cuba, com uma missão importante: contratar os melhores professores universitários cubanos, especialmente em duas áreas de excelência: esportes e saúde.
No ano passado, as mudanças constitucionais acabaram com a reserva de mercado nas universidades brasileiras.
Ao mesmo tempo, Cuba atravessa uma crise forte, na qual o maior receio é perder seu maior ativo: os cérebros formados nos períodos de bonança.
Assim, o governo cubano decidiu montar uma política emergencial. Coloca os pesquisadores à disposição das universidades privadas, em troca de um pagamento (para o país) de R$ 1.500,00, que servirá para sustentar a família dos professores, mantendo-os ligados ao país.

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