São Paulo, segunda-feira, 1 de julho de 1996
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Uma punhalada na decisão da Eurocopa-96

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Não foi morte súbita. Foi uma punhalada nas costas dos companheiros, desferida pelo goleiro Kuba, ao espalmar para dentro de suas próprias redes o disparo de Bierhoff, o herói wagneriano que renasceu ontem para glória da Alemanha, campeão européia.
Não que os tchecos tivessem sido tão superiores assim. A Alemanha é que não foi tão grande como suas tradições, embora jogasse o tempo todo com um senso de profundidade sempre mais agudo do que a República Tcheca. Esta, retomando contato com seu mais honroso passado, optava pelo toque de bola pé a pé.
Ambos, porém, esbarravam em defesas bem postadas, e as chances de gols foram mínimas, entre as quais o pênalti convertido por Berger e a cabeçada de Bierhoff que levou a decisão para a prorrogação.
Para o futebol, foi um final indiferente.
*
Entre mortos e feridos, salvaram-se todos, como diria Vicente Matheus de seu arquiinimigo, o Palmeiras. Isto é, nem todos. Afinal, foi-se Amaral. Mas Amaral, cuja simpatia e dedicação serão sempre insubstituíveis, deixa uma vaga facilmente preenchível.
Na verdade, mais para Galeano, que voltou do Juventude com porte de patrão do meio-campo, do que para Marquinhos, em quem Luxemburgo apostava todas as fichas no início da temporada. Nunca por razões técnicas e mais por uma questão de personalidade: Marquinhos me parece taciturno demais pra integrar o alegre e vivo Palmeiras.
O importante, porém, é que Rivaldo e Cafu ficaram. E, com a vinda de Zé Maria, talvez o Palmeiras resolva até a defecção de Muller. Sim, porque basta enfiar Zé Maria pela lateral, passando Cafu para o meio, como falso ponta-direita, função que ele exerceu com honras até de artilheiro no São Paulo de Telê, nos tempos do bicampeonato mundial.
Além do mais, o Palmeiras, com Zé Maria no elenco, eliminaria de vez uma das poucas falhas do time: essa lateral vazia quando Cafu se ausenta.
*
O tricolor volta à carga sobre Pimentel, lateral-direito do Vasco, o que é uma boa. E, de quebra, flerta com o médio Leandro, um dos raríssimos volantes do nosso futebol que sabe jogar bola.
A propósito, volto a insistir: por que Muricy não testa, ao menos uma vez, André como segundo volante, pela esquerda, ao lado de Axel e atrás de Adriano e Denílson?
Aliás, o próprio Muricy, tempos atrás, num papo informal, concordou com essa hipótese, que, entre outras coisas, ameniza o desconforto emocional do jogador, que não quer sair da lateral-esquerda, o atalho que o levou à seleção.
Mais que isso: André, embora dono de técnica invejável e de excelente visão de jogo, não tem a maleabilidade própria de um meia, como Denílson, por exemplo. Falo daquela ginga, aquele meneio rápido e safado que o próprio Muricy esbanjava nos seus tempos de craque. Nisso, Denílson dá de goleada em André. Este, porém, vindo de trás, armando as jogadas, virando o jogo e chegando para bater de esquerda, daria ao meio campo -mais precisamente à saída de bola- um toque de classe.

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