São Paulo, segunda-feira, 1 de julho de 1996
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Pacote mergulha em lado escuro dos 70

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

A oportunidade para um mergulho arqueológico no mais obscuro lado musical dos anos 70 está chegando às lojas em forma de pacote, composto por 17 CDs, do selo inglês Castle.
Black Sabbath, Emerson, Lake & Palmer, Tangerine Dream e Uriah Heep são as bandas contempladas com os relançamentos.
Geralmente subestimadas, elas deixaram marcas profundas em toda a música que foi produzida após o surgimento delas. Gostar ou não é uma questão menor se comparada à quantidade de filhotes que elas geraram.
Magia negra
Bandas como Sepultura, Megadeth ou qualquer grupo grunge de Seattle não fariam o mesmo som caso quatro ingleses de Birmingham deixassem de montar o Black Sabbath em 1968.
Ozzy Osbourne (vocal), Tony Iommi (guitarra), Terry "Geezer" Butler (baixo) e Bill Ward (bateria) começaram tocando blues sob o nome de Polka Tulk.
Durante o breve período em que passaram pelo nome de Earth até chegar a Black Sabbath, resolveram aumentar o volume de seu lado blueseiro em muitos decibéis, colocaram pitadas de música erudita e passaram a cultuar temas satânicos nas letras.
Pronto, estava criado o standard eternamente copiado. O molde aparece bem definido nos CDs "Black Sabbath" (70), "Paranoid" (70), "Black Sabbath Volume 4" (72) e "Sabotage" (75).
Após deixar a banda, em setembro de 77, Ozzy foi substituído pelo versátil Ronnie James Dio, que emprestou novas possibilidades de exploração vocal, mas não deu continuidade ao caldeirão de idéias sonoras. Sem os atritos de Ozzy com Iommi não houve fogo.
Dessa fase, o pacote traz os apenas corretos "Never Say Die" (78) e "Heaven and Hell" (80).
Mas o pior estava por vir. Em 1983, o vocalista do Deep Purple, Ian Gillan, foi recrutado para a gravação de "Born Again". O que poderia ter sido um encontro de titãs acabou virando a mancha mais negra na carreira do Sabbath.
Sinfônicos
Velhos conhecidos dos progressivos de plantão, os ingleses do Emerson, Lake & Palmer também são de Birmingham.
Sem o peso e temas diabólicos dos seus conterrâneos, eles resolveram combater a pobreza harmônica do rock, mas aproveitando a adrenalina inerente ao estilo.
A fusão que fizeram com a música erudita pode soar pretensiosa ou, simplesmente, bela. Tudo depende do ouvinte.
Tudo o que a banda fez de embrionário e indispensável está no pacote: "Emerson Lake & Palmer (70), "Pictures at an Exhibition" (71), "Tarkus" (71), "Trilogy" (72) e "Brain Salad Surgery" (73).
Os alemães do Tangerine Dream também são músicos seminais, para o bem e para o mal. Se o experimentalismo que produziram resultou na música eletrônica de Brian Eno, também desembocou na anódina música new age.
Formado em 1968, o grupo foi contemplado com apenas dois relançamentos nesse pacote da Castle. "Electronic Meditation" (70) e "Green Desert" (73).
A banda debutou com "Electronic Meditation", disco altamente experimental que fundiu o então inovador teclado Mellotron -predecessor dos sintetizadores- com violoncelo.
Quem resistir aos quase 13 minutos de esquisitices da faixa "Journey Through a Burning Brain", sem sair de perto do aparelho de som, jamais deixará de ser fã.
Ambiência. Esse é o conceito por trás de "Green Desert". A sucessão de climas sonoros -que eletronicamente tentam reproduzir aspectos naturais- vai tomando corpo à medida em que o disco vai tocando. Entre no espírito ou esqueça esse CD.
No pacote fazem muita falta os álbuns "Alpha Centaury" (71) e "Atem" (83). Neles mora a importância do TD.
Riqueza pop
Em seus 13 anos de existência (1970-1983), a banda inglesa Uriah Heep gravou 15 álbuns.
Sua combinação de peso com influências do blues -temperada com o vocal e as harmonias ricas, para os padrões pop, de David Byron (47-1985)- desembocou no que poderia ser chamado de heavy metal glitter.
É difícil entender a trajetória da banda. Escapava por milímetros de fazer rock progressivo, cometia ousadias, como gravar uma faixa de 16 minutos com uma orquestra no disco "Salisbury" (que não faz parte do pacote da Castle) e, mesmo assim, vendia muito.
Esse talento mercadológico foi a faísca que detonou a animosidade entre banda e crítica. Mas mesmo o mais empedernido dos críticos não pode negar-lhes o mérito de terem pavimentado o caminho para que David Bowie e Marc Bolan, do T-Rex, fossem o que foram.
Em "Wonderworld" (74) está o melhor que eles conseguiram produzir. O que não é pouco.

Títulos que compõem o pacote da Castle
Black Sabbath: "Black Sabbath", "Paranoid", "Black Sabbath Volume 4", "Sabotage", "Technical Ecstasy", "Heaven and Hell", "Never Say Die" e "Born Again"
Emerson, Lake & Palmer: "Emerson, Lake and Palmer", "Pictures at an Exhibition", "Tarkus", "Trilogy" e "Brain Salad Surgery"
Tangerine Dream: "Electronic Meditation" e "Green Desert"
Uriah Heep: "Wonderworld" e "Very 'eavy...Very 'umble"

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