São Paulo, segunda-feira, 1 de julho de 1996
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Paulinho e Zizi mostram seu refinamento no JVC Festival

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

A música popular brasileira deu mais um passo em seu estabelecimento no mercado internacional. Paulinho da Viola e Zizi Possi dividiram uma bela noite musical, sexta-feira, no JVC Jazz Festival de Nova York.
A platéia que ocupou dois terços do erudito Avery Fisher Hall, no Lincoln Center, era composta em boa parte por brasileiros -algo evidente na imediata reação às canções mais populares exibidas por Paulinho e Zizi.
Mesmo assim, a boa repercussão da noite já podia ser medida logo após seu final, com o exigido bis de Zizi. Entre vários jornalistas norte-americanos que foram aos bastidores cumprimentar os artistas brasileiros também estava a cantora de jazz Blossom Dearie.
Refinamento
Paulinho da Viola escolheu a dedo o número de abertura da noite. Lembrou "Tempos Idos", clássico samba de Cartola que fala justamente da ascensão do samba aos grandes palcos e teatros.
Acompanhado por um sexteto, que incluía o violão de seu pai, Cesar, e o piano de Cristóvão Bastos, Paulinho exibiu uma espécie de retrospectiva de sua carreira.
Com o refinamento de sempre, recordou sucessos como "Dança da Solidão", "Sinal Fechado" e "Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida", além de dedicar alguns sambas-enredos às escolas Portela, Mangueira e Império Serrano.
Paulinho acertou em cheio também ao tocar três choros instrumentais, com destaque para o belíssimo "Sarau Para Radamés", muito aplaudido pela platéia.
Diva
Com gestos e ares de diva, usando um longo vestido vermelho, Zizi Possi abriu seu show com várias faixas de "Mais Simples", seu mais recente trabalho, que acaba de sair pela Polygram.
Entre recriações de alguns clássicos da música brasileira, como "Melodia Sentimental" (de Villa-Lobos) e o choro "Lamentos" (de Pixinguinha), Zizi incluiu autores mais recentes, como o paraibano Chico César ("Béradêro") e o pernambucano Lenine ("Olho de Peixe").
No show, que deve ser exibido em breve nos palcos brasileiros, brilharam também três canções do professor de Literatura e compositor paulista José Miguel Wisnik. "Se Meu Mundo Cair" e "Mais Simples" foram responsáveis por alguns dos momentos mais emocionantes da noite.
Cantando com perfeição e demonstrando transparência em sua nova fase musical, Zizi incluiu ainda uma seleção de sambas, com destaque para "Eu Quero um Samba" (Haroldo Barbosa e Janet de Almeida) e "Só Pra Chatear" (Príncipe Pretinho).
O refinamento musical de Zizi Possi e Paulinho da Viola exibido no Avery Fisher Hall não deixou nada a dever às operas e concertos de jazz exibidos normalmente nesse teatro nova-iorquino. Mais um ponto para a MPB.

O jornalista Carlos Calado viajou a convite da United Airlines e da JVC do Brasil.

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