São Paulo, segunda-feira, 1 de julho de 1996
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FALTA SOCIOLOGIA

Numa época em que se louva a chamada sociedade do conhecimento, falta muito ainda em termos de conhecimento da sociedade. O caderno que esta Folha publicou ontem sobre o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) é um trabalho original sobre um tema que desperta paixões, mas pouco compreendido. Os dados permitem que se conheça melhor o fenômeno.
Entre os resultados surpreendentes está a constatação de que não se trata de um movimento contrário ao "sistema" (noutros tempos se diria "subversivo"), mas que os sem-terra querem ser também proprietários. Ou seja, querem acesso ao mercado.
Mas, infelizmente, a pesquisa confirma que o nível médio de instrução entre os acampados é muito baixo, o que evidentemente reduz a viabilidade econômica dos assentamentos. São raríssimos os casos de sucesso desse tipo de política fundiária. A baixa escolaridade, aliás, muitas vezes facilita tanto a demagogia quanto o radicalismo e, no limite, o recurso à violência -não raramente insuflada por lideranças com perfil bem diverso e muito mais politizado e hierarquizado do que o das bases.
O perfil dos acampados não difere muito da média da população do país, nem se afasta das características das regiões onde se encontram. A grande maioria é católica; 52% são brancos; 34%, pardos e 11%, negros. A escolaridade é baixa, mas não muito inferior à media do setor rural. No Brasil, 85% dos que vivem no campo não completaram o primeiro grau. Entre os sem-terra, 90%.
Outra informação surpreendente é que os participantes do movimento não são flagrantemente partidários. Nas últimas eleições, 35% dos entrevistados votaram em Lula para presidente e outros 35% em FHC.
O que se fará com os resultados da pesquisa é difícil dizer. De um lado, sem dúvida ganha legitimidade um tratamento menos ideológico da questão agrária, cujo teor de fato social ganha relevância. Diante desse quadro, fica evidente que soluções fáceis ou ingenuamente distributivistas estão fadadas ao fracasso.

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