São Paulo, terça-feira, 2 de julho de 1996
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Hortência quer jogar 'mais com a cabeça'

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

Hortência vai mudar seu estilo de jogar devido ao parto e ao período de inatividade.
Mais delicada, menos explosiva e menos ágil, Hortência diz que terá de "jogar mais com a cabeça". Isso significa, segundo ela, menos infiltrações no garrafão, menos arremessos e mais assistências.
Em entrevista exclusiva à Folha, ela afirmou que ainda se ressente da dilatação do quadril e do corte para o parto cesáreo. "De vez em quando sinto dor", disse.
João Victor, filho da jogadora, nasceu em fevereiro. Ele acompanha a mãe a Atlanta.
Além da medalha de ouro, Hortência planeja um novo filho -de preferência uma filha. E prepara uma nova despedida, desta vez definitiva, garante.
*
Folha - Você teme não jogar bem em Atlanta?
Hortência - Não. Sem dúvida não serei a mesma, mas espero ajudar. Estou correndo contra o tempo. Se tivesse mais dois meses para me preparar, eu arrebentaria. Mas tive até que reaprender a correr, por causa da dilatação no quadril. As pessoas têm de entender que tive um filho há quatro meses.
Folha - Você teme cobranças?
Hortência - Não sei. Às vezes acho que isso não me preocupa. Outras vezes, me imagino jogando mal e as pessoas me criticando. Não sei como vou reagir.
Espero que as pessoas não cobrem. Elas não imaginam o sacrifício que estou fazendo. Ainda hoje sinto dor na cicatriz do parto. Tive de fazer um trabalho especial para fortalecer a musculatura da barriga, para evitar contusões.
Folha - Todo esse esforço é só para a Olimpíada, ou você pretende continuar jogando depois?
Hortência - Só para a Olimpíada. Eu não sou mais uma jogadora de basquete, não me considero mais uma atleta. Talvez faça uma despedida final no Mundial interclubes em setembro, mas isso ainda não está confirmado.
Folha - A maternidade trouxe problemas. Mas trouxe também alguma vantagem?
Hortência - Não sei, não tive tempo de testar ainda. Minha cabeça mudou muito. Estou mais sensível, mais amorosa, mais delicada. Não me importo mais com coisas que antes me irritavam, inclusive na quadra.
Não estou tão explosiva. Acho que vou ter de jogar mais com a cabeça, e menos com a emoção e com o físico.
Folha - Mas não dá para ser delicada contra um adversário numa Olimpíada?
Hortência - É verdade. Ainda não me reabituei ao duelo corpo a corpo na quadra.
Folha - Isso implica mudanças táticas no seu jogo e no da seleção?
Hortência - Sim. Estou com dificuldade nas penetrações no garrafão e nos arremessos em movimento. Antes, eu passava com facilidade pela marcação, na agilidade. Agora, a marcadora me acompanha. Não consigo me separar.
Estamos testando mudanças de função e posicionamento por causa disso. Devo arremessar menos e dar mais assistências.
Folha - Como está a seleção brasileira em relação à que foi campeã mundial em 94?
Hortência - Em teoria está mais forte, tirando a minha participação. Mas naquela época estávamos despreocupadas, só pensávamos no título. Foi na época da Copa do Mundo, ninguém deu muita importância para nós.
Isso ajuda, há menos cobrança. Agora somos favoritas. Não gosto disso. Prefiro ser zebra.
Folha - Você acha que o Brasil é favorito à medalha de ouro?
Hortência - Há um só time favorito hoje: os Estados Unidos, que jogam em casa.
Os demais estão muito iguais. Os jogos devem ser muito equilibrados. Podemos chegar ao pódio ou ficar lá embaixo.
Folha - Uma nova gravidez está nos seus planos?
Hortência - Claro. Não sei quando, mas talvez ainda para este ano, depois da Olimpíada. Quero ter uma menina.

LEIA a coluna "Basquete no Mundo" à pág. 3-8

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