São Paulo, quarta-feira, 3 de julho de 1996
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Reforma realmente radical

ISAIAS RAW

O debate da Folha dá a impressão de que o problema central das universidades paulistas é cobrar mensalidade. Bastaria privatizar a USP, e teríamos, na melhor das hipóteses, outro Objetivo, uma escola em que o corpo docente só dá aula, ou faculdades de "bairro", em que quem não sabe ensina.
O que diferencia uma universidade, como as paulistas, das outras chamadas universidades é a produção científica, tecnológica e cultural original, que repousa na criatividade dos docentes, que a ela se dedicam por tempo completo. Atrelada a universidade às mensalidades, ficará esterilizada, perseguindo uma renda, facilmente ampliada por admitir milhares de alunos pagadores, que terão da universidade o mesmo que tiveram de um cursinho, em que se substitui educação, criatividade pela simples memorização para exames. Só se aprende isso de quem investiga, cria, produz e oferece esse tipo de aprendizado.
Uma reforma profunda exigiria praticamente um "golpe" nas atuais estruturas de poder, que numa Constituinte revivesse as responsabilidades das universidades com a sociedade do presente e do futuro. Seria abolida uma centena de colegiados que hoje diluem o poder para manter o status quo. Seriam abolidas as três universidades para criar um sistema estadual tipo Califórnia, com um comando central, em que os professores servem ao conjunto inteiro.
A "hiperuniversidade" transferiria para as escolas privadas uma série de cursos que não exigem a pesada estrutura de pesquisa original, enxugando muitos departamentos e institutos para se transformar em pequenos grupos de profissionais excepcionais, que estariam a serviço e fazendo o controle das escolas privadas, muitas das quais são arapucas que lesam alunos que têm dificuldade financeira. Em vez de preparar professores secundários, preparariam professores de professores e se dedicariam a melhorar e inovar o ensino fundamental e secundário. Como uma só universidade, seriam revistos os institutos e departamentos, e os menos produtivos seriam progressivamente terminados, e o corpo docente de alto nível, mobilizado para o conjunto.
A pressão por recursos poderia ser empregada não para mediocrizar nossas universidades, mas para exigir uma revisão realmente profunda do que mantemos e de que tipo de serviços deve prestar. É um repto para os magníficos reitores (que já têm um título obsoleto) e para o sr. governador, decretando nas férias de julho um hiato para repensar urgentemente para merecer os recursos que a sociedade investe.

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