São Paulo, quinta-feira, 4 de julho de 1996
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Laboratórios fotográficos de SP oferecem preços altos e riscos

CRISTIANO MASCARO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A "Ilustrada" publicou no dia 11 de junho um artigo "especial para a Folha", do fotógrafo Zé de Boni, com o título "Fotógrafo Cristiano Mascaro gaba-se de sua própria mesquinhez", criticando o fato de eu ter realizado em Paris as ampliações fotográficas de minha exposição "Luzes da Cidade", inaugurada em 24 de abril no Masp.
O artigo é exageradamente elogioso ao meu trabalho, e quanto a isso agradeço a deferência.
Todavia, não posso deixar de me compadecer com a lamentação diante da minha decisão de trabalhar com laboratório no exterior. Mesmo porque tomei essa decisão somente após esgotar todas as possibilidades de viabilizá-lo no Brasil.
Afirma Zé de Boni que "... uma pesquisa de preços mostrará que, em média, eles (os laboratórios) não são mais altos aqui".
Preços mais altos
Todos os laboratórios que pesquisei (dos quais não tenho absolutamente nenhuma queixa) apresentaram custos da ordem de duas vezes o valor pago em Paris.
Os laboratórios de São Paulo tiveram a fineza de me alertar das dificuldades que poderiam enfrentar para obter o papel fotográfico no mercado, da temeridade de uma eventual importação -já que nunca há garantia de entrega no prazo combinado-, dos riscos, como muitas vezes já ocorreu, de o produto chegar com defeitos de fabricação ou até velado (!).
E, ainda, de que necessitariam de pelo menos dois meses para a execução do serviço -prazo excessivamente longo para meu cronograma de trabalho.
Assustado com tantas dificuldades para algo que poderia ser tão simples, não tive dúvida em optar pela solução que viabilizaria meu trabalho e não por aquela que estaria permanentemente conspirando contra ele.
Mercado oligopolizado
Não aceitei a prática de alguns preços brasileiros, muito altos -resultado das pressões exercidas sobre os fabricantes e importadores de materiais fotográficos, mercado sabidamente oligopolizado.
Jamais culpei os laboratórios por esta situação, já que certamente as próprias regras de mercado se incumbiriam de equilibrar os preços. Não tenho dúvida de que isto seria muito bom tanto para os fotógrafos como para os laboratoristas.
Fenômeno semelhante deverá ocorrer também entre os profissionais das áreas de cinema e artes gráficas, que há muito tempo vêm realizando no exterior uma série de serviços.
Acusar-me de estar contribuindo para "o desaparecimento de profissionais especializadíssimos, artesãos da câmara escura cada vez mais raros entre nós" é um exagero de demagogia, impregnada de xenofobia e corporativismo.
Lamentavelmente, ao dirigir as baterias contra mim, aponta para o alvo errado.
Zé do Boni sugere também a "brilhante" idéia de gastar a verba disponível "com uma versão um pouco mais modesta em tamanho...".
Ingerência
Além de a proposta insinuar uma grave e irresponsável ingerência em uma manifestação cultural, que é exclusiva criação e responsabilidade de quem a propõe, não abro mão da possibilidade de gastar meu dinheiro da melhor forma possível e de levar meus negativos para onde bem entender, sem que isso represente uma ofensa a quem quer que seja.
Todas as acusações e muitas insinuações evidentemente me aborreceram, mas chocou-me a vocação de Zé do Boni para informante da Receita Federal.
Insinua ele que eu estaria praticando, ao trazer minhas fotografias do exterior, "...uma forma de sonegação (fiscal), golpe brutal na sua comunidade".
Para a tranquilidade do contribuinte, asseguro que minhas fotografias entraram legalmente no país, declaradas como material sem valor comercial, pois não estarão à venda -farão parte de um conjunto de imagens que, depois do Masp, irá participar da Bienal de Fotografia de Curitiba.
Para concluir, tenho a lamentar que a Folha tenha permitido que um redator qualquer, abrigado em seguro anonimato e, pelo que estou informado, à revelia do autor do artigo, se dedicasse a criar um infeliz título -"Fotógrafo Cristiano Mascaro gaba-se de sua própria mesquinhez"-, que certamente achou brilhante.
No entanto, não se deu conta de que, não me conhecendo e estando totalmente alheio ou desinformado a respeito do assunto tratado, cometeu uma tremenda leviandade. Para dizer o mínimo.

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