São Paulo, quinta-feira, 4 de julho de 1996
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A VITÓRIA DE IELTSIN

A vitória de Boris Ieltsin no segundo turno das eleições russas é antes de tudo uma rejeição ao que muitos consideravam ser uma volta ao passado soviético e não uma aprovação à forma como o atual presidente vem conduzindo o país.
Em que pese a tirania e todas as atrocidades cometidas pelo regime soviético, a nação dispunha de uma rede de proteção social relativamente eficaz -ainda que insustentável- que ruiu na transição para a economia de mercado. Apesar das filas e dos cartões de racionamento, havia comida, escola e moradia para todos. A ordem pública, mantida à bala, também era uma constante hoje desconhecida. Esses fatores explicam a expressiva votação do candidato neocomunista, Guennadi Ziuganov.
É evidente que não se transforma uma economia plenamente estatizada num regime de mercado sem pagar o preço para isso, mas muitos dos russos acreditavam que não haveria preço, apenas os então chamados "luxos do capitalismo decadente". Erraram redondamente.
De qualquer forma, passada a retórica da campanha, Ieltsin terá tempo para fazer um balanço de sua gestão (e da votação de seu rival) e decidir se deve ou não alterar o ritmo das reformas. Aqueles que literalmente se tornaram órfãos do comunismo, encontrando-se hoje desempregados ou subempregados, sem moradia ou mesmo escola para seus filhos, não são uma pequena parcela da população do maior país do planeta.
O mais importante, contudo, é que a jovem democracia russa parece estar se consolidando. As eleições transcorreram em ordem, não há denúncias importantes de fraudes, e a própria oposição pediu a seus militantes que respeitassem o resultado das urnas e não promovessem qualquer tipo de desordem.
É a primeira vez na história da Rússia que a sua população escolhe livremente o seu rumo, um direito inalienável de todos os povos.

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