São Paulo, segunda-feira, 8 de julho de 1996
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Família pode obter indenização

AURÉLIO GIMENEZ

AURÉLIO GIMENEZ; CRISTINA GRILLO
FREE LANCE PARA A FOLHA

CRISTINA GRILLO
A descoberta do laudo cadavérico de Carlos Lamarca pode alterar o rumo do processo de pedido de indenização à família do guerrilheiro, em análise pela Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério da Justiça.
O documento indica que três dos sete tiros que mataram Lamarca foram desferidos pelas costas.
"São provas tão contundentes que não podem ser ignoradas", disse César Lamarca, 35, o filho mais velho do guerrilheiro, morto aos 34 anos em Brotas de Macaúbas, a cerca de 600 km de Salvador.
O laudo indica que Lamarca pode ter sido executado por militares que o perseguiam, sob o comando do então major Nilton Cerqueira, hoje secretário de Segurança do Rio. Procurado pela Folha, a assessoria do secretário informou que ele não falaria sobre o caso.
Assinado pelos peritos Charles René Pittex e José Francisco dos Santos, já mortos, o laudo contém cinco páginas escritas dos dois lados, anexos de ilustrações das perfurações à bala e fotografias da necropsia do capitão Lamarca.
O documento diz que o responsável pelos tiros "provavelmente quis o resultado ou pelo menos assumiu o risco de produzi-lo".
O diagrama mostra que Lamarca foi atingido apenas no tronco. Não há referência sobre qual tipo de arma teria sido usada nem qual a posição do responsável pelos tiros.
As perfurações serão comparadas com os restos mortais exumados no Rio há duas semanas.
Em alguns aspectos, o laudo é muito detalhado. Os legistas escreveram que Lamarca usava meia marrom clara no pé direito e azul escura no pé esquerdo. Afirmam que vestia camisa "navy" comprada na Casa da Armada (Rio), que vende uniformes militares.
Corpo
César diz ainda que há dúvidas sobre os restos mortais de seu pai. "Nos entregaram um corpo que pode não ser o dele. O maxilar e o número de perfurações não batem. Faremos o exame de DNA." O teste será feito na Argentina.
Segundo o legista da Universidade Federal do Rio, Nelson Massini, que teve rápido acesso à documentação, o laudo é importante para se conhecer a versão oficial da morte.
Para Massini, o laudo foi muito bem produzido para o padrão brasileiro. Segundo ele, a proporção dos tiros pode indicar que Lamarca não resistiu aos perseguidores.

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