São Paulo, segunda-feira, 8 de julho de 1996 |
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Câmara prioriza projetos "inúteis"
ROGÉRIO GENTILE
Em três anos e seis meses de mandato os vereadores aprovaram 857 projetos: 218 nomeiam ruas, praças e avenidas; 105 criaram datas comemorativas e 173 concederam medalhas e títulos de cidadão paulistano. Ou seja, 57,87% dos projetos aprovados fazem algum tipo de reverência a pessoas, profissões, entidades, ruas ou bairros. Enquanto isso, propostas consideradas importantes pelos próprios vereadores estão esquecidas. É o caso da Operação Urbana Centro, projeto de revitalização do centro da cidade, sem tramitar desde 1993. A desativação do Carandiru também só não foi viabilizada por falta de vontade política. Elaborada em conjunto por todas as bancadas no primeiro semestre, o projeto que cria condições para acabar com o complexo prisional ainda não foi votado. Dia do Bailarino Nessa legislatura, os vereadores estão apostando na criação de datas comemorativas. Foram criados, por exemplo, o "Dia do Bailarino", o "Dia dos ex-alunos Maristas", o "Dia da Vila Nhocuné","o Dia do Colunista Social" e a "Semana Demônios da Garoa". Outra preferência parlamentar é a denominação de ruas de São Paulo, que ganharam o nome de empresários, políticos, líderes comunitários e artistas. Alguns dos homenageados com nomes de ruas ou vielas da periferia são escolhidos em enciclopédias. Esse é o método escolhido pelo vereador Mario Noda, do PTB. Ele sugeriu, por exemplo, os nomes de Steve McQueen e Alfred Hitchcock para vielas nas zonas leste e norte da cidade (leia texto nesta página). 'Caçando votos' Os projetos que dão Medalhas Anchieta e títulos de Cidadão Paulistano são chamados pelos próprios vereadores de "caça-votos". O motivo é que esse tipo de homenagem -sugerida por vereadores de todos os partidos- tem dois objetivos: atrair votos de parentes e amigos do "premiado" e obter alguma contribuição financeira eleitoral -quando o homenageado é algum empresário. Mas, assim como os vereadores dão, também podem tirar. O pastor da Igreja Universal, Ronaldo Didini, apresentador do programa "25ª Hora", por exemplo, recebeu a Medalha Anchieta dois meses antes do caso do "Chute na Santa", em outubro do ano passado. Por causa disso, parte da bancada do PT pediu a cassação da honraria. O processo tramita até hoje. Também por iniciativa do PT, foi homenageado o professor Irineo Calderini, que deu aulas no Senai para os sindicalistas Vicentinho e Jair Meneguelli. Campanha eleitoral "A Câmara é uma instituição importante, mas que está funcionando muito mal", afirma o vereador Chico Whitaker (PT). "Este tipo de projeto tem como objetivo principal conseguir votos e apoio financeiro para as campanhas eleitorais." A urbanista Regina Monteiro, do Movimento Defenda São Paulo, também faz críticas aos projetos de homenagens. "Nomear ruas não deveria ser função de vereadores, mas do Executivo", diz ela. Próximo Texto: 'Números não avaliam produção' Índice |
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