São Paulo, segunda-feira, 8 de julho de 1996
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Congresso de Aids começa otimista

JAIRO BOUER
ENVIADO ESPECIAL A VANCOUVER

Uma boa parte dos especialistas presentes no início da 11ª Conferência Internacional de Aids deixou transparecer ontem uma esperança nunca vista em encontros científicos sobre a doença.
No entanto, os discursos de abertura da reunião de Vancouver (Canadá), foram marcados por uma advertência clara: o otimismo em relação a uma possível cura para a Aids ainda deve ser visto com reservas.
Toda essa mudança de comportamento só foi possível depois de que foi desenvolvida uma nova classe de medicamentos -os inibidores da protease.
Mais poderosos que o AZT e seus "primos" (ddI, ddC, d4t e 3TC), os inibidores da protease "atacam" o vírus em um outro ponto do seu ciclo -a fase final de maturação. Sem a ajuda da enzima protease, o vírus não tem a capacidade de infectar novos linfócitos (células de defesa do organismo).
Mudança no tratamento
David Ho, diretor do Aaron Diamond Research Center de Nova York e uma das maiores autoridades em Aids da atualidade, afirmou ontem que as recentes descobertas sobre a replicação do vírus e o resultado dos estudos com os novos medicamentos devem obrigar os médicos a repensar o papel e o objetivo do tratamento.
Ho diz que, para vencer o HIV, é preciso intervir cedo e de maneira firme. Isto é, deve ser usado precocemente um coquetel de três drogas (incluindo um inibidor da protease) que reduza ao máximo a carga viral -chegando, se possível, a níveis indetectáveis de vírus.
Ho diz que os atuais conhecimentos determinam que duas condutas sejam banidas: o retardo no início do tratamento e o uso de uma única droga antiviral.
A combinação de três drogas, além de "atacar" o vírus com mais força, também tenta impedir o aparecimento de resistência do HIV. Pacientes que tomam apenas AZT ou AZT combinado com outra droga da sua classe conseguem "driblar" a resistência do vírus por, no máximo, 80 semanas. Depois disso, ele volta a se replicar de maneira incontrolável.
O efeito do coquetel de drogas também é superior ao uso isolado de um inibidor da protease. Um dos estudos indica que um esquema tríplice (Indinavir, AZT e 3TC) conseguiu "zerar" a carga viral em 90% dos pacientes por, pelo menos, 24 semanas. A protease isolada (Indinavir) alcançou esse efeito em 40% dos pacientes.
Ainda não existem dados para saber por quanto tempo o esquema tríplice consegue manter o seu poder sobre o vírus. Além disso, um dos maiores limites dessa nova modalidade de tratamento é o custo.
Custos
Peter Piot, diretor executivo do Programa das Nações Unidas para HIV/Aids, diz que as novas descobertas precisam ser encaradas em um contexto dramático em que nove em cada dez infecções pelo HIV acontecem hoje em países em desenvolvimento, onde a maioria dos pacientes não terá acesso às novas drogas.
Apenas com as medicações, um paciente infectado pelo HIV pode gastar, no Brasil, algo em torno de R$ 1.000 por mês. Apesar desse custo elevado, alguns médicos brasileiros presentes à conferência relatam a diminuição impressionante do número de internações, provocada pela administração do novo coquetel de drogas.

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