São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 1996
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Queima dos pomares

ADEMERVAL GARCIA

Citros é uma cultura perene, isto é, não renovável ano a ano, ao contrário da soja, milho, cebola, batata, por exemplo, classificadas como culturas anuais.
Nas culturas anuais, o desinteresse do produtor na continuidade daquela exploração agrícola implica em sua substituição por outra ou no simples abandono da atividade, permanecendo a terra livre.
Para isso, basta o emprego de tratores, já como parte do preparo da nova semeadura.
Nas culturas perenes, o desinteresse em sua continuidade implica na erradicação de árvores -e isso tem um custo alto, de cerca de US$ 1 por pé, em pequenas propriedades com citros- a fim de permitir a utilização da área para outro plantio.
Quando essa mudança é consciente e decidida por razões de interesse empresarial, não existe problema, pois serão erradicadas árvores sadias e produtivas.
Na maioria das vezes, entretanto, ocorre o simples abandono da atividade, por percalços em partilha de bens, desinteresse ou dificuldades econômicas do produtor.
Nesses casos, as árvores permanecem no local, sem tratos, constituindo-se num repositório de pragas e doenças, que a partir dali contaminam os pomares vizinhos, aumentando-lhes os riscos e os custos, sem nada que seus proprietários possam fazer para evitar esses encargos adicionais.
Parte dessa situação decorre da existência de uma lei de controle do meio ambiente, que permite a queima no local apenas dos restos da cultura do algodão, para eliminar a broca.
Para a erradicação de pomares é necessário o corte das árvores, a retirada das raízes (destoca) e o transporte das árvores a local adequado para sua queima.
Há dois aspectos a ser analisados. O primeiro é o custo, tanto mais sério quanto maior for a dificuldade econômica que determinou o abandono do pomar.
O segundo é que o transporte dos restos de cultura se dará por caminhos que passam por outros pomares, deixando uma esteira de pragas e doenças a contaminar as propriedades sadias no percurso.
Isso ocorre especialmente em pequenas propriedades encravadas em regiões produtivas, e é facilmente verificável quando se voa baixo na região citrícola paulista.
Manchas amarelas formadas pelos pomares abandonados entremeiam a paisagem verde das propriedades em produção.
Se a existência da broca do algodoeiro, uma única praga, faz dessa cultura uma exceção no trato ambiental, permitindo a sua queima, com muito mais razão esta exceção deveria se estender às plantas cítricas, alvo permanente de pragas e doenças.
Permitir a queima, seja do pomar -garantida a integridade dos vizinhos-, seja de árvores arrancadas e acumuladas em pontos localizados da propriedade, será uma medida de economia para o dono da terra e de proteção sanitária para todos os seus vizinhos.

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