São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 1996
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Rodízio só não basta

DANIEL ROBERTO FINK

Recentemente foi aprovada a lei nº 9.358/96 instituindo o rodízio obrigatório de veículos no município de São Paulo e prevendo multas para os infratores. A imprensa veiculou e veiculará pesquisas e entrevistas com os moradores sobre ser contra ou a favor do rodízio. Mas a questão não é essa.
Não há quem possa ser a favor da obrigação de deixar seu veículo em casa um dia da semana, pois isso é, além de limitação da liberdade de locomoção, uma restrição ao seu conforto. Há, na verdade, os que serão afetados e os que não serão.
Uma parcela significativa de profissionais depende de seus carros para o desempenho diário de suas atividades e, nesse dia, não poderá usá-los. Por quê? Para que a cidade tenha um número menor de veículos em circulação e, portanto, uma melhoria da qualidade do ar.
Pela própria natureza da medida, fica claro que o rodízio é um mero paliativo se desacompanhado dos remédios necessários e conhecidos para a solução do problema. Prova disso é a ausência de outras medidas efetivas, que devem ser tomadas por Estado e município. O rodízio, por si só, não basta.
O problema da poluição do ar na cidade de São Paulo há muito já deixou de ser industrial para encontrar nos veículos seu maior vilão. Portanto, medida mais eficaz seria a retirada voluntária dos veículos da rua, pelo menos os que trafegam desnecessariamente. Isso somente se dará com a implantação de um sistema metropolitano de transporte coletivo eficiente.
Se as autoridades estivessem realmente preocupadas em solucionar o problema, estariam anunciando um plano diretor plurianual de investimentos em transportes coletivos e transformando-o em lei para obrigar futuras administrações a continuá-lo.
Outra medida eficiente é tornar os veículos mais adequados sob o ponto de vista ambiental. Nesse sentido, Estado e município deveriam buscar a implantação conjunta do programa de inspeção e manutenção da frota em circulação. Essas medidas, no mínimo, é que deveriam ser anunciadas pelos responsáveis pelo equacionamento do problema, e não ficar se apegando a soluções provisórias, de alcance pífio e duvidoso.
Aliás, é oportuno tomar emprestados alguns conceitos do neoliberalismo e implantá-los em matéria de meio ambiente: o poder público deveria cumprir seu papel e deixar de interferir tão minuciosamente em nossas vidas, como se fôssemos os culpados pela qualidade do ar que respiramos, e não houvesse mais nada a fazer senão sermos compelidos a deixar o carro na garagem, como se amanhã o assunto estivesse resolvido.

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