São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 1996
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Avaliação pode incluir opinião de alunos

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A opinião que os estudantes de mestrado e doutorado têm a respeito de seus cursos poderá passar a ser um dos itens usados para avaliar a pós-graduação no Brasil.
Essa prática, muito comum em instituições de ensino superior norte-americanas, ainda não foi incluída no sistema de avaliação mantido pela Capes (Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), órgão do Ministério da Educação.
Na avaliação que realizou no biênio 95/94 -cujos resultados foram divulgados na semana passada-, a Capes usou os mesmos critérios que vêm sendo empregados há mais de uma década.
Compõem a nota de cada curso de pós-graduação itens como a qualificação e produção dos professores e o tempo de titulação dos alunos (leia quadro).
"Diante da constatação de que a proporção de notas A estava crescendo, passamos a trabalhar com os referenciais da avaliação", diz o diretor de avaliação da Capes, Darcy Dillenburg, 66.
Desde 1976
A avaliação da Capes é uma das mais tradicionais de todo o sistema educacional brasileiro. Existe desde 1976, embora hoje seja muito mais abrangente.
Ela é realizada por 42 comissões de diversas áreas do conhecimento, cujos coordenadores são escolhidos em consulta a todos os cursos avaliados.
Esses cursos preenchem um formulário e escrevem um relatório a cada ano, que são usados pelas comissões na avaliação. Entre 5% e 10% dos cursos recebem visitas de membros das comissões.
Até a avaliação divulgada em 1992, o número de notas A em cursos de pós-graduação vinha aumentando. O A chegou a ser atribuído a 56% dos doutorados naquele ano. Na última avaliação, esse índice caiu para 51%.
Os principais motivos para essa queda foram o maior rigor na avaliação e o crescimento de 50% no número de cursos de pós-graduações no país esta década.
"Exigir a formação do mestrando em dois anos e meio e do doutorando em quatro anos era um parâmetro que, antes, não era muito cobrado", diz Dillenburg.
Outros item que foi "ajustado", segundo o diretor de avaliação, é a exigência de que os docentes devem publicar artigos em revistas científicas internacionais.
Tudo nota
A Para o presidente da Câmara de Educação Superior, do Conselho Nacional de Educação, Éfrem Maranhão, 43, "se os critérios são os mesmos ao longo do tempo, todos os cursos tendem a se tornar A".
Segundo ele, "é preciso acrescentar novos elementos na avaliação para diferenciar os bons".
Éfrem Maranhão questiona a nota E tirada pelo doutorado em medicina da Universidade Federal de Pernambuco -uma das melhores instituições do MEC.
Ex-reitor da UFPE, ele afirma que o doutorado foi criado com uma nova proposta -de não especializar o profissional-, porém, essa novidade não teria sido compreendida pelos avaliadores.
Dillenburg diz que o curso é novo e que a nota foi divulgada por uma falha da Capes.
O presidente do Crub (Conselho Nacional de Reitores Brasileiros), José Martins Filho, 52, afirma que o sistema da Capes avalia algumas áreas com mais rigor.
"As áreas exatas e tecnológicas tendem a ser muito rigorosas. Novas áreas, sem tradição de avaliação, têm mais dificuldade."
A inclusão da opinião dos estudantes sobre seus cursos é uma das várias sugestões de mudança na avaliação da Capes em discussão nas comissões, afirma Dillenburg.

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